Acordo UE-Mercosul, um passo promissor
Após 25 anos de avanços, impasses e retrocessos, União Europeia (UE) e Mercosul anunciaram nesta sexta-feira que foi obtido o consenso nas negociações sobre o acordo de livre comércio entre os dois blocos. Faltam, é verdade, etapas burocráticas demoradas e resistências a serem vencidas até o tratado ter efeitos práticos. Ainda assim, o comunicado feito em Montevidéu, no Uruguai, é um passo promissor e merece ser celebrado pelos obstáculos vencidos e pelas perspectivas de uma aliança estratégica e de cooperação entre duas regiões que englobam uma população de mais de 700 milhões de pessoas e quase um quarto da riqueza global.
O acordo entre UE e Mercosul, que cria a maior zona de livre comércio do mundo, prevê reduzir ou zerar tarifas de importação de bens e serviços entre os blocos. Mesmo que existam diferentes números, as projeções são unânimes em indicar benefícios econômicos para ambos os lados.
Os reflexos, ao longo dos anos, aparecerão na forma de mais trocas comerciais, investimentos e, por consequência, no PIB dos sócios dos conglomerados de países. Se há vantagens para o Brasil e seus parceiros do Prata, ganha também o Rio Grande do Sul, em posição privilegiada na região.
O estreitamento de relações entre as nações sul-americanas e europeias, voltado a impulsionar negócios, se investe de importância adicional pelo prenúncio de dias mais turbulentos no comércio global e na geopolítica. O futuro presidente dos EUA, Donald Trump, acena com mais protecionismo. Mira essencialmente a China, mas já disparou ameaças de elevar tarifas para produtos de outros países.
A parceria entre a União Europeia e o Mercosul, neste contexto de incerteza e conflitos, pode ser uma espécie de trincheira de proteção contra os estilhaços da guerra econômica entre Washington e Pequim. Em um período de surtos nacionalistas e isolacionistas, o acordo UE-Mercosul surge também como um respiro do multilateralismo.
Como em todo tratado do gênero, em um primeiro momento são apontados os setores que podem tirar maior proveito e os que terão algumas dificuldades. Para o Mercosul, em especial o Brasil, o tratado tende a ser bastante vantajoso para o agronegócio, altamente competitivo, a despeito da existência de cotas. O Rio Grande do Sul, como um dos protagonistas da produção de grãos, proteína animal e equipamentos voltados ao setor primário, tende a ser favorecido. Essa é a razão, como é notório, para a ferrenha oposição ao tratado pela França, onde também cresce a onda protecionista puxada pelos agricultores locais, temerosos de perderem mercado. Alguns segmentos industriais brasileiros, por outro lado, podem ter desvantagem inicial em relação aos pares do Velho Mundo.
Aberturas comerciais, como se sabe, tendem a impulsionar a busca por eficiência. Ganham os consumidores, com acesso a uma gama maior de produtos e serviços a preços mais acessíveis. Assim, cabe ao país acelerar reformas e facilitar investimentos em infraestrutura que diminuam o custo Brasil e ajudem a tornar as fábricas locais e demais setores capacitadas para concorrer nos dois lados do Atlântico.
Mesmo que não surjam novos obstáculos intransponíveis nas etapas que ainda precisam ser superadas, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul ainda deve demorar para ser implementado. É preciso saber aproveitar este tempo para solucionar os gargalos que tiram o potencial da economia brasileira.
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