Por que morremos
Livro de biólogo vencedor do Nobel examina pesquisas passadas e de ponta para descobrir as teorias aspiracionais e as limitações práticas da longevidade
A notícia provoca reflexões interessantes sobre a longevidade. Quanto estamos evoluindo? O mundo definitivamente está ficando grisalho. O Fundo Monetário Internacional (FMI)descreve o envelhecimento da população, e não o rápido crescimento populacional, como o "desafio demográfico mais formidável" do planeta. A Organização Mundial da Saúde estima que até 2030 uma em cada seis pessoas terá 60 anos ou mais.
Já vivemos o dobro do que vivíamos há 150 anos. É provável que a pessoa que chegará aos 120 anos já tenha nascido. Condições sanitárias, definitivamente melhores do que nos séculos passados, possivelmente foram as maiores responsáveis por isso. Houve, também, uma explosão de revelações científicas sobre a biologia do envelhecimento nas últimas décadas. Essencialmente, envelhecemos porque as nossas células acumulam danos ao longo do tempo e perdem gradualmente a capacidade de se repararem e renovarem.
Cada um de nós é composto por trilhões de células; cada célula contém nosso DNA, que - de alguma forma - coordena nossas necessárias multiplicações celulares. Mas a cópia e replicação de novas células pode introduzir erros de digitação ou mutações; fatores ambientais, como produtos químicos (como tabagismo) e radiação (como exposição solar inadequada), também causam danos celulares cumulativos.
Essencialmente, envelhecemos porque as nossas células acumulam danos ao longo do tempo e perdem gradualmente a capacidade de se repararem e renovarem. Como no livro de Hemingway O Sol Também se Levanta, em que perguntam a um personagem como foi à falência e ele responde:
- Duas maneiras: gradualmente, depois de repente.
Nosso organismo, envelhecendo, funciona assim. Pequenas falhas vão se acumulando até que a viabilidade biológica se esgota. Milhares de processos sincronizados são necessários para manter essa complexa coreografia celular. Tem todo sentido, portanto, reduzir exposição a esses agressores diários e constantes mas simplificar ações com tratamentos mágicos e sem avaliação prospectiva e bem conduzida, prometendo reduzir o envelhecimento, que alimentam um comércio de esperanças e ilusões.
Assim, o campo da investigação sobre a longevidade humana compreende uma mistura discordante de cientistas que querem curar doenças e de otimistas que esperam viver para sempre com soluções simplificadas.
No seu novo livro, Why We Die ("Por que morremos"), o biólogo molecular Venki Ramakrishnan, vencedor do Prêmio Nobel, examina pesquisas passadas e de ponta para descobrir as teorias aspiracionais e as limitações práticas da longevidade.
Ele explora também as implicações sociais da extensão radical da vida: o aumento da desigualdade na saúde, a injustiça intergeracional, a superpopulação, a economia da aposentadoria e um possível declínio na criatividade humana à medida que um mundo envelhecido se torna mais sóbrio. Envelhecer, portanto, não pode ser somente uma meta individual. Como sociedade, temos que endereçar esforços para uma evolução harmoniosa, assim como acontece em cada célula do corpo.
Aumentar a expectativa de vida pode provocar a imaginação e sempre esteve na agenda científica, mas não pode roubar o sentido da nossa existência em fazer com que cada dia conte. E que possamos envelhecer e aprender a valorizar cada prazer como, pelo menos, com bem-estar reconhecer os filhos ao nosso lado.
A cada 15 dias, artigos sobre saúde (física ou mental), bem-estar e comportamento podem ser publicados neste espaço. Os textos devem ter de 4.000 a 4.400 caracteres. Escreva para ticiano.osorio@ zerohora.com.br
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