sexta-feira, 27 de dezembro de 2024


27 de Dezembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Risco Brasil sobe sem passar recorde

Boa parte da pressão que leva à constante alta do dólar está ligada à preocupação do mercado financeiro sobre o aumento da dívida pública brasileira. Com todos os indicadores de curto prazo apontando piora - inclusive alguns com perspectiva mais longa, como a dos juros futuros -, há outro impacto.

Nos últimos 30 dias, aumentou em 27,8% o risco Brasil medido pela variação dos Credits Default Swaps (CDS, um derivativo que precifica o risco de calote de títulos, inclusive os que representam a dívida de países, chamada de soberana).

Em 20 de dezembro, atingiu 218,14 pontos. Passou dos 200 pela primeira vez desde 5 de março de 2023, pouco depois da definição do arcabouço fiscal no Brasil. Depois, acabou recuando para o patamar abaixo, mas sem descolar muito da fronteira. Ontem, estava em 198,35, conforme o site World Government Bonds.

Apesar da alta, a chamada "probabilidade de default implícita", ou seja, o risco de calote projetado pelo atual nível dos CDS com prazo de cinco anos, é de apenas 3,31%. Nos últimos cinco anos - prazo de negociação desses derivativos -, o maior nível de inquietação ocorreu em 19 de março de 2020, em 374,9 pontos, durante a pandemia de covid-19.

É bom comparar com a Argentina, um país em situação mais delicada nessa área nos últimos vários governos. Os CDS da dívida do país vizinho estão em 1.030 pontos, isso que baixaram nada menos de 87% nos últimos 30 dias. E ainda projetam probabilidade de calote do país vizinho em 17,18%, quase seis vezes superior à do Brasil. _

Com suspense sobre emendas, dólar fecha em R$ 6,179

Mesmo com anúncio prévio do Banco Central (BC) de um leilão de US$ 3 bilhões, o dólar voltou a fechar em alta ontem. A cotação teve variação positiva de 0,38%, para R$ 6,179, depois de forte volatilidade (sobe e desce) durante o dia.

A nova intervenção do BC ajudou a moderar a alta por algumas horas, mas a moeda americana voltou a subir, pressionada por estimativas de desidratação das medidas de contenção de gasto aprovadas no Congresso.

Também pesou a mobilização de líderes partidários, convocada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tratar da suspensão do pagamento de cerca de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão determinada pelo ministro Flávio Dino, do STF.

Embora a reunião tenha sido adiada para que Lira tivesse, antes, uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o suspense em torno do assunto se manteve até o fechamento do mercado de câmbio. _

Uma fusão de empresas que faturam R$ 2,4 bi

Duas empresas gaúchas se uniram: a Da Cás Imóveis, que atua na venda de lançamentos imobiliários, vai se tornar uma franquia da Auxiliadora Predial, tradicional imobiliária de Porto Alegre.

As empresas não informaram o valor da transação. A fusão junta duas gaúchas que preveem movimentar R$ 2,4 bilhões em valor geral de vendas (VGV) neste ano - a Da Cás, R$ 400 milhões, e a Auxiliadora Predial, R$ 2 bilhões. Com a mudança, a Auxiliadora Predial começa a atuar no mercado de lançamentos, e a Da Cás, no setor de compra e venda de imóveis já adquiridos.

A fusão amplia para 1,4 mil o número de funcionários da rede de franquias da Auxiliadora Predial. A Da Cás tem cerca de 160 corretores. _

No Sul, 65% da população vê 2025 igual ou melhor

Apesar do mau humor no mercado financeiro, o clima de otimismo típico de finais de ano não abandonou todos os brasileiros. Realizada entre os dias 5 e 9 de dezembro - antes do choque de juro e de recordes nominais do dólar -, a última pesquisa Radar Febraban deste ano aponta que a maior parte da população do Sul tem avaliação favorável em relação à economia no próximo ano.

O país vai melhorar ou ficar como está para 65% dos entrevistados - 46% têm perspectiva positiva e 19% pensam que o Brasil ficará na mesma. Outros 29% preveem piora, enquanto 6% não responderam.

É um resultado surpreendente, até porque a maioria dos economistas projeta desaceleração ou até recessão em 2025, o que significaria ao menos dois trimestres seguidos de queda no PIB, com redução no consumo e na renda. O estudo é do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).

Otimismo

Os indicadores que motivam o otimismo na Região Sul são salário, crédito e emprego. Para 81% dos entrevistados, os salários vão aumentar (38%) ou permanecer iguais (43%). Só 14% projetam que os salários vão diminuir. Já 26% preveem que o desemprego vai cair e 31%, que vai ficar na mesma. O acesso ao crédito deve melhorar para 34%, manter-se para 30% e piorar para 29%. O indicador, que está nos menores níveis da atual série histórica, deve apresentar piora no próximo ano para 38% dos entrevistados. _

Irrigação "verde"

Não será por falta de "irrigação" que o dólar vai romper novas barreiras dramáticas em 2025, como ocorreu neste ano com a de R$ 6. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta aumento de 5,7% nas exportações do Brasil no próximo ano.

Nos cálculos da entidade, a maior contribuição virá da agropecuária, com estimativa de alta de 9,8%, seguida pela indústria de transformação, com aumento de 7,8%.

Deve cair 2,5%, no entanto, a venda ao Exterior da indústria extrativa. Claro, se a guerra comercial que Donald Trump deve declarar em 20 de janeiro não complicar demais. _

Outra vez, o Congresso está com a faca e o queijo na mão: não aprovou o projeto de lei orçamentária anual (Ploa) de 2025. Essas regras costumam ser votadas no ano anterior. Há precedentes, mas são raros. Se o governo não quiser aprofundar a crise, terá de ceder.

R$ 7,2 trilhões

é o total da dívida pública federal brasileira, depois da alta de 1,85% em novembro, conforme informou ontem o Tesouro Nacional. Em 2023, o endividamento havia encerrado o ano em R$ 6,52 trilhões. Essa conta é só do Tesouro, não inclui os débitos de Estados, municípios e estatais, nem títulos do Banco Central (BC).

GPS DA ECONOMIA

Nenhum comentário: