domingo, 4 de agosto de 2013


ELIO GASPARI

A marquetagem 'rudimentar' da doutora

O comissariado desconversa criando fantasias, ofendendo os números e jogando os problemas no colo dos outros

Desde que o "monstro" foi para a rua, o governo da doutora Dilma fez uma opção preferencial por encrencas que resultam apenas em trapalhadas. Quis convocar uma constituinte exclusiva para desenhar uma reforma política e a ideia durou pouco mais que um fim de semana. Sacou uma proposta de plebiscito a respeito da qual nem o PT se entende. Quis estender em dois anos a formação dos médicos e desistiu na semana passada.

Até aí, tratava-se apenas de desconversar diante do ronco das ruas que pedem melhores serviços públicos. Na semana passada, contudo, a doutora fez um novo lance, provocador. Veio a São Paulo para anunciar investimentos de R$ 3,1 bilhões em corredores de ônibus (um mimo para o comissário Fernando Haddad) e saiu-se com esta: São Paulo é, "talvez, a maior cidade do mundo com o menor sistema metroviário do mundo". Tradução: o problema de transporte do paulistano é a falta de metrô e, com isso, vai para o colo do tucanato que governa o Estado há 20 anos.

Com 11 milhões de habitantes, a cidade de São Paulo tem 74 km de metrô, no qual se movem 3 milhões de pessoas por dia útil. O metrô do Rio tem 46 km e atende 640 mil pessoas por dia, numa população de 6,3 milhões. A doutora ajeitou a bola com a mão. Tanto São Paulo como o Rio precisam de mais trilhos, mas o "talvez" só caberia se o Rio estivesse em outro hemisfério. Estando logo ali, com um metrô de má qualidade, como se comprovou durante a visita do papa Francisco, como ela mesma diria, o truque foi "rudimentar".

De qualquer forma, a doutora poderá reequilibrar a balança se, na sua próxima visita ao Rio, disser que ela é uma das maiores cidades do mundo com o menor sistema metroviário do mundo.

PALPITE

De um conhecedor do Supremo Tribunal Federal:

"Se havia alguma possibilidade de o STF aliviar as principais penas do mensalão, o ronco das ruas secou a fonte".

RECORDAR É VIVER

Está na rede um depoimento de Paulo, filho do general João Baptista Figueiredo, contando o encontro de seu pai com João Havelange, em 1979. O então presidente da Fifa queria trazer a Copa de 1986 para o Brasil. À época os interessados falavam numa despesa de

US$ 500 milhões. O general sabia que a conta não ficaria por menos de US$ 1 bilhão, quantia equivalente a US$ 3,2 bilhões em dinheiro de hoje.

Pode-se não gostar de Figueiredo, mas ninguém podia tirar de sua biografia o fato de ter assinado a anistia. Agora pode-se acrescentar que não assinou o cheque da Copa.

A Copa de Lula custará R$ 28 bilhões, ou US$ 12,1 bilhões.

CADÊ O AMARILDO?

No dia 14 de julho o pedreiro Amarildo de Souza, pai de seis filhos, foi levado para a Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha e desapareceu.

Segundo a polícia ele foi liberado e não se sabe para onde foi.

Cadê o vídeo que registrou sua saída da UPP? A câmera estava quebrada. Cadê os GPS dos carros da UPP, capazes de mostrar por onde andaram?

Estavam desligados.

Cadê a inteligência da população?

Precisa ser pacificada. Para isso, o secretário de Segurança Beltrame poderia responder a uma pergunta: Quantas vezes pifaram simultaneamente os controles das câmeras e os aparelhos de GPS em outros estabelecimentos policiais sob sua jurisdição?

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e soube que o presidente da Câmara, Henrique Alves, viajou na primeira classe em sua "villeggiatura" a Moscou porque não havia lugares vagos na executiva.

O cretino viu nisso a confirmação da própria estupidez. Se não há lugar na executiva, ele pede para viajar na classe turística.

O doutor estava em Moscou quando o "monstro" saiu da caverna, estragando-lhe uma paradinha em Paris no caminho de volta.

REGISTRO SOCIAL

Com autorização judicial para deixar o país, o doutor Luís Octávio Índio da Costa está esquiando na estação de Las Leñas.

Ele foi dono do banco Cruzeiro do Sul, colocado sob intervenção do Banco Central há um ano, com um rombo de R$ 3,1 bilhões.

Entre as gracinhas encontradas na contabilidade do banco esteve a compra de R$ 28,3 milhões em cartões telefônicos, ervanário suficiente para adquirir 566.821 plásticos com créditos de R$ 50.

ERROS

O servidor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) detido no Rio durante os protestos contra o governador Sérgio Cabral não disse que estava a serviço da agência.

Ele foi acusado de desacatar a delegada de plantão na 14ª DP.

O ministro Raimundo Carneiro, do Tribunal de Contas da União, que conviveu com duas datas de nascimento (1946 e 1948), esclarece que a disparidade "em nada interferiu no processo de aposentadoria perante o Senado", onde foi funcionário.

O TUCANO QUIS TIRAR FHC DO AR

Coisas que só acontecem no ninho dos tucanos. O jornalista Mario Sergio Conti, que dirige e apresenta o programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, do governo paulista, foi informado de que seu contrato, vigente até o final de setembro, estará rescindido ao fim deste mês. A lâmina foi passada pelo doutor Marcos Mendonça, que assumiu a direção da emissora em junho.

Pouco depois da posse de Mendonça, Conti havia convidado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para ser o entrevistado da semana. Desde 2011, quando João Sayad o levou para a TV Cultura, o jornalista tinha autonomia para escolher os convidados.

Mendonça é um mandarim do aparelho tucano e já ocupou a Secretaria de Cultura de São Paulo. Sem qualquer discussão interna, ou notícia a Conti, telefonou para o ex-presidente, retirando o convite. No seu melhor estilo, FHC encaixou o golpe. Quando Mendonça comunicou o desconvite a Conti, ele condenou a grosseria com o ex-presidente, lembrou a autonomia que Sayad lhe dera e informou que a exerceria, mantendo a entrevista. Ligou para FHC que, novamente no seu melhor estilo, disse-lhe "lá estarei". E lá esteve, cerimoniosamente recepcionado por Mendonça. A entrevista foi ao ar no dia 1º de julho.

Não há registro de episódio semelhante, com dono de emissora desfazendo um convite aceito por um ex-presidente da República. Quem chegou mais perto foi o comandante do 1º Exército, em 1969, quando mandou passar a tesoura em declarações de d. Yolanda Costa e Silva, mulher do marechal que estava entrevado, no Palácio Laranjeiras.

Em 1978, quando censores quiseram impedir que uma entrevista de Lula à TV Cultura fosse ao ar, o governador Paulo Egydio Martins se mexeu e o presidente Ernesto Geisel os enquadrou.


Amanhã, o Roda Viva entrevistará Pablo Capilé, do Mídia Ninja

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