terça-feira, 1 de julho de 2014


01 de julho de 2014 | N° 17846
DAVID COIMBRA

O TÉCNICO BRABO

O técnico da Argélia tem um nome impronunciável, Vahid Halihodzic, e, pelo que li, é um homem brabo. Andou xingando gente nesse Mundial. Mas provou conhecer o jogo: armou um sistema inteligente para deter um time poderoso, e quase obteve sucesso. Vahid montou uma linha de cinco jogadores no meio-campo e deixou só um, o número 13, rapidíssimo, entre os dois enormes e lentos zagueiros alemães. A Alemanha tinha dificuldades de exercer seu toque de bola, e os contragolpes da Argélia eram tão agudos que o goleiro alemão jogou de líbero. Se o goleiro alemão fosse mais lento, a Argélia teria marcado mais gols.

O TÉCNICO NOJENTO
O técnico da Alemanha, Joachim Löw, é conhecido por gostar de comer tatu de nariz durante os jogos. Nojento. Mas teve competência para fazer do time alemão uma espécie de Flamengo com trema. Ou de Barcelona, o time no qual ele confessadamente se baseou.

Só que ontem Joachim Löw errou. Não percebeu que um de seus jogadores mais importantes, Özil, estava fora do jogo e hesitou em dar mais profundidade ao time. Quase foi eliminado da Copa por uma equipe inferior, mas enérgica e disciplinada. A energia e a disciplina são as marcas deste Mundial do Brasil.

VOCÊ É MEIO GREGO
Os gregos inventaram o teatro e, inventando o teatro, inventaram a literatura.

Os gregos inventaram a filosofia.

Os gregos inventaram a democracia.

Os gregos inventaram a História.

Temos uma dívida de gratidão para com os gregos, não é? Temos, claro que sim. Mas vocês não levaram isso em consideração, vocês torceram para a Costa Rica. Alguém dirá: mas e no esporte, o que nos deram os gregos? No esporte? Oh, sacripanta, os gregos nos deram as Olimpíadas, o atletismo, a maratona... Está certo, também nos deram a luta greco-romana, que é muito esquisita, mas, fora isso, compreenda o tamanho dos gregos e o quanto você também é grego culturalmente falando.

E vocês torceram para a Costa Rica...

Viram no que deu?

Milhões de olhos e quereres concentrados levantaram a mão do goleiro da Costa Rica e ele defendeu aquele pênalti. A Grécia está fora da Copa. A Grécia, para quem vocês devem tanto. A Grécia, por causa de vocês.

Cuidado, os deuses do Olimpo não devem estar nada satisfeitos.

NACIONALISTAS EM FÚRIA

Você prestou atenção nos alemães cantando o hino?

Devia ter prestado.

Há uma guerra de hinos nesta Copa. Os brasileiros cantam o hino a capela, os chilenos querem fazer o mesmo e os brasileiros não deixam. Os jogadores do Brasil não cantam o hino; berram-no, em especial o zagueiro David Luiz, imbuído de um fervor patriótico meio assustador. Teve uma menina de 12 anos que, perfilada em frente aos jogadores, gritou tão desvairadamente o hino que impressionou o capitão Thiago Silva, a ponto de ele postar numa rede social que aquilo, sim, era prova de amor à pátria.

Os franceses também fazem todos se arrepiar com a Marselhesa, assim como os ingleses com o God Save The Queen. Os americanos entoam seu hino fazendo continência, como se fossem soldados. Vi, pela TV, gente chorando na execução do hino de seu país.

Mas os alemães, não. Os alemães cantam discretamente seu hino nacional e vão para o jogo sem palpitações ufanistas. Você, que conhece um pouco de História, me diga: você sentiria medo, se os alemães cantassem o hino como David Luiz?

Decerto que sim.

Só que os alemães têm farta consciência dos efeitos do nacionalismo. Então, eles são moderados.


O curioso é que poucos países da Copa, na verdade poucos países do mundo respeitam seu cidadão como a Alemanha. Os alemães são bem cuidados pela Alemanha, e cuidam bem da Alemanha. Sem ardores, sem paixões alucinadas, sem achar que se ganha no grito.

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