SHOBHAN
SAXENA - ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem veio temendo ser assaltado, vai
voltar levando boas recordações
Faltando
poucos dias para a primeira partida da Copa do Mundo, enquanto estádios
recebiam os retoques finais, muros de rodoviárias eram pintados e cadeiras no
aeroporto eram polidas, não pude deixar de pensar em um casamento indiano.
Os
casamentos na Índia são eventos cheios de detalhes, mas, até o grupo do noivo
chegar à casa da noiva, a cena é de caos: luzes sendo instaladas, decorações de
flores sendo feitas, a comida sendo experimentada e mulheres correndo de um
lado a outro com seus vestidos e joias. Quando a noiva surge, a música começa a
tocar e, de repente, cada coisa vai para seu devido lugar. É o melhor exemplo
de caos organizado.
É
assim que o Brasil estava parecendo antes de a bola começar a rolar em São
Paulo, em 12 de junho. Mas, assim como em um casamento indiano a cena muda com
a chegada da noiva, aqui tudo começou a entrar no ritmo da música depois de
Neymar colocar a bola dentro do gol da Croácia pela primeira vez.
Então
a Copa do Mundo começou a parecer uma máquina bem lubrificada em que cada
engrenagem estava funcionando à perfeição.
Para
ser franco, as coisas não foram tão deprimentes quanto imaginamos. Durante as
partidas da Copa, viajei a quatro cidades brasileiras e não enfrentei um único
problema. É a mesma história com todos os jornalistas, locais e estrangeiros.
Todos têm elogios a fazer à "Copa das Copas". Os estádios são excelentes,
com ambiente perfeito. Os voos foram pontuais e as filas nos aeroportos, curtas
e rápidas. Os hotéis foram calorosos e eficientes. E mesmo os muito criticados
motoristas de táxi têm sido prestativos e simpáticos.
Mas
o maior ponto positivo para o Brasil nesta Copa do Mundo tem sido o seu povo.
Estive com jornalistas europeus que se perguntavam por que as pessoas são
"tão simpáticas e sempre sorridentes". Dois jornalistas indianos me
perguntaram várias vezes se "as pessoas são sempre tão acolhedoras".
Quem veio para cá temendo ser assaltado, vai voltar levando recordações de
cantorias, dança e festa nas ruas.
É
claro que a derrota do Brasil na semifinal esfriou o ânimo. O Brasil perdeu a
Copa em campo, mas conquistou o mundo fora de campo.
Na
Índia, costumamos dizer brincando que no final tudo ficará bem, e, se não
ficar, ainda não será o final. Mas, no Brasil, tudo estava bem antes mesmo da
final.
Tradução
de Clara Allain
SHOBHAN
SAXENA é o primeiro correspondente indiano a ter vivido e trabalhado no Brasil.
Residindo em São Paulo, fez reportagens para o "Times of India",
"The Hindu" e a BBC South Asia
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