sábado, 12 de julho de 2014


13 de julho de 2014 | N° 17858
VERISSIMO NA COPA

FOI PENA

Esdrúxulo é a palavra mais esdrúxula da língua portuguesa. Uma coisa é esdrúxula quando é tão estranha, incomum, incompreensível enfim, esdrúxula que nenhum outro adjetivo a descreve.

Se esdrúxulo fosse um vegetal, seria uma espécie de cacto espinhento. Se fosse um bicho, seria uma cruza de bode com arraia. Ou seja: o que é esdrúxulo está tão longe da normalidade que é como se existisse em outro mundo, em outra categoria de coisas e acontecimentos. É tão diferente que, se você dá com algo esdrúxulo em sua vida, jamais esquece.

Alemanha 7, Brasil 1, por exemplo. Nunca houve um resultado tão esdrúxulo na história das Copas. E nós jamais o esqueceremos. O que é uma pena, porque, fora o esdrúxulo, foi uma ótima Copa. Quase tudo deu certo, com exceções lamentáveis mas poucas. Houve paz, e se não contarmos alguns egos, algumas reputações e o Neymar, não houve vítimas mais sérias. Mas sempre que pensarmos nesta Copa pensaremos no 7 a 1. O esdrúxulo não irá embora.

Se instalará em nossas vidas como um hóspede incômodo, um cunhado que não se flagra, um gato jogado longe que sempre volta, um vizinho que toca tuba, a memória de um grande amor frustrado. E a passagem do tempo não ajudará. Gerações ainda por vir não saberão quem ganhou neste domingo e foi campeão, mas saberão do esdrúxulo.

– 2014, 2014...

– A Copa dos 7 a 1.

– Ah, claro!

Pena. Foi uma Copa de boa organização e bom futebol, com algumas surpresas, como a da Costa Rica e da Colômbia, que não chegaram a ser esdrúxulas. A dentada do Suárez foi um fato insólito, mas foi uma manifestação da fome de vencer, ou de uma obsessão privada.


Nada de esdrúxula. Já o 7 a 1 não representou algo lógico, patológico ou mensurável. A Alemanha não era sete vezes melhor do que o Brasil. O futebol do Brasil não se esfarelou em 6 minutos. Foi tudo esdrúxulo. Muito esdrúxulo.

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