sexta-feira, 18 de julho de 2014

Jaime Cimenti

Idades

Lá pela década de 1970, a média de idade do brasileiro era de cinquenta e poucos anos. Quarenta anos depois, passa dos setenta. Deixamos de ser um país de jovens, e aí é preciso enfrentar os desafios individuais e coletivos relacionados com os idosos.

Uns gostam da expressão terceira idade, outros falam em melhor idade. Melhor nem falar muito em idade e deixar os números para os queridos médicos. Uns acham que ser velho é uma beleza, outros reclamam, com razão, do valor da aposentadoria, das doenças e da desconsideração de muitos com os velhinhos. Todos têm o direito, claro, de viver como achar melhor e pensar o que quiser sobre a inevitável passagem do tempo. Já vivemos uma democracia geriátrica. 

Antes as pessoas se aposentavam aí pelos cinquenta, viviam mais alguns anos e pronto. Cadeira de balanço, jornal, pijama listrado, rádio e televisor, netos, jogo de damas na praça, cartas para o Correio do Leitor, reclamações na padaria sobre o peso do pão e outras coisas do tipo estavam relacionadas com os aposentados e os idosos. Hoje temos novos velhos, com roupas, penteados, hábitos, remédios e cotidiano diferentes.

Boa parte quer distância da cadeira de balanço e entende que aposentado não deve ficar muito nos aposentos, para não se deprimir, ficar doente e ir para o andar de cima antes da hora. Aliás, muito melhor a palavra jubilado que aposentado. Outros idosos preferem curtir a lentidão, os descompromissos e os prazeres da contemplação próprios da idade. Juventude passa, velhice é para sempre, brincam uns. Velhice é uma questão de tempo.

Memória é onde as coisas acontecem muitas vezes. Envelhecer é o preço a pagar pela sorte de continuar vivo. Se você tiver sorte e tomar uns cuidados e não morrer, aí você envelhece. Boa sorte! Procure bem, não reclame muito, velhice tem suas vantagens, não só as filas, passagens de ônibus e meia-entrada.

Manter o corpo e a mente ativos, comer e beber bem, rir, chorar, ter família e amigos, ler, ouvir boa música, exercitar os neurônios e mais umas coisas podem afastar o alemão Alzheimer. Se o Alzheimer te pegar, você vai ter a vantagem de conhecer muita gente nova, vai esquecer o que bebeu e comeu mas, pelo menos, não vai lembrar dos 7 a 1 que tomamos da Alemanha.


A seleção alemã trouxe o problemão, mas um deles, Alzheimer, tem a solução, com direito a rima pobre. Cada idoso é igual e diferente, com seus direitos e deveres, mas o importante é que a vida siga sendo a arte do bom, feliz e saudável encontro, para todos.

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