09
de julho de 2014 | N° 17854
MARTHA MEDEIROS
Homens
Mulheres,
não reclamem. Nunca se viu tanto homem, ao menos na tevê. Viva a Copa, que
deixará saudades. Mas quem quiser se aprofundar um pouquinho no mundo
masculino, troque a tevê pelo cinema, a fim de assistir ao filme espanhol O que
os Homens Falam. Nele, cinco esquetes expõem as crises de meia-idade dos nossos
queridos. A presença do argentino Ricardo Darín é a cereja do bolo, mas os
demais atores são excepcionais também.
Divertido,
inteligente e enternecedor. Quando cheguei em casa, ainda trazia um sorriso no
rosto, tal é a leveza desse filme que desmistifica o macho alfa, revelando os
homens como realmente são: falíveis, infantis e doces, até mesmo os cafajestes.
Até eles.
A
luta feminina pela conquista de direitos é legítima e necessária, mas criou uma
atmosfera de campo de guerra – o homem passou a ser visto como o predador que
deve ser combatido, o responsável por todas as infelicidades que nos
atormentam.
Se
são, é porque damos a eles o protagonismo de nossas histórias românticas e eles
acabam se transformando em inimigos íntimos, mas culpa, culpa mesmo, ninguém
tem de nada. Tanto eles como nós somos igualmente cerebrais e emotivos. O que
nos difere, talvez, seja o humor, que é a maneira como externamos nosso ponto
de vista sobre o que acontece.
E
aqui entro em campo minado, prestes a receber uma saraivada de insultos das
minhas parceiras de gênero: considero o humor masculino mais interessante. Há
quem diga inclusive que não existe humor feminino – quando ele funciona, é
porque é masculino também. Pode ser. A mulher recorre à caricatura e ao exagero
para tornar-se engraçada – somos as rainhas do drama, como se sabe. Já o humor
masculino é reflexo de uma observação realista – eles extraem graça do
inevitável, e isso me parece extremamente comovedor.
Homens
riem de si próprios com economia, sem excessos. Puro charme. É isso que encanta
nos personagens de O que os Homens Falam. Não são inflamáveis, e sim discretos,
falam com poucas palavras, e também através de gestos e olhares sutis.
O
humor deles seduz (ao menos a mim) porque não é cênico, teatral, e mesmo quando
existe a intenção de fazer rir, o fazem sem alarde – Woody Allen e Luis
Fernando Verissimo têm isso em comum, para exemplificar. É um humor que não sei
como adjetivar de outra forma, a não ser dizendo o óbvio, que é um humor
masculino no que o homem tem de melhor: a desafetação.
Do
cinema realista para uma tragédia grega contemporânea: a peça A Vertigem dos
Animais antes do Abate, mais um projeto liderado por Luciano Alabarse, fica em
cartaz no Theatro São Pedro de amanhã até domingo. A nossa bestialidade
primitiva em cima do palco, a nu, com elenco, direção e música de primeira.
Para adultos de estômagos fortes – masculinos ou femininos.
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