segunda-feira, 14 de julho de 2014


14 de julho de 2014 | N° 17859
ARTIGOS - Paulo Brossard*

Efeitos benéficos

Sem embargo do pouco feliz episódio protagonizado pela Seleção Brasileira na semana passada, não foram desprezíveis os resultados positivos da Copa do Mundo ontem encerrada. De outro lado, é opinião generalizada que o bom êxito não pode ser atribuído ao poder público; segundo um confrade de jornal, David Coimbra, a meu juízo com perfeição, resumiu: “A Copa é um sucesso. A maioria das ações do governo na Copa, não.

O governo merece seu quinhão de aplausos, e outro tanto de apupos”. E a Zero Hora de ontem, que dedica nada menos de cinco páginas de análise ao fato, sob o título “Legado ainda a concluir”, diz o que todo mundo sente. O projeto sob a responsabilidade do governo ficou simplesmente esboçado e, em parte relevante, irrealizado, sendo raros os casos em que a conclusão do projetado ocorreu a tempo do Mundial. Não é preciso dizer mais para retratar com razoável objetividade esse aspecto.

O benefício que resulta da Copa decorre direta e indiretamente da extraordinária riqueza humana que aqui conviveu nesse período, notando-se que originários de variadas regiões de todos os continentes, falando idiomas os mais diversos. A despeito das naturais dificuldades de comunicação, os efeitos úteis de um convívio inédito foram da maior expressão tanto para os brasileiros que os receberam quanto para os viajantes que conheceram um mundo novo.

Por todos os dados conhecidos, parece que não houve empecilho para uma efetiva intercomunicação. Essa injeção de grupos e até coletividades plurais e em tudo e por tudo diversificados beneficiou inequivocamente a comunidade nacional e, até onde posso deduzir, os visitantes levaram consigo a imagem de um país distante e da maioria deles desconhecido e que por muitos títulos não lhes deve haver desagradado, a começar pela afabilidade e espontânea cordialidade do povo.

Este fato, que me parece real, significa um enriquecimento que não se mede nem com a balança nem com o termômetro, mas pelo conjunto de vivências e percepções de pessoas médias. Não faltavam previsões no sentido de eventuais choques, senão conflitos, entre essa junção de pessoas tão diferentes, e forçoso é proclamar que nenhum deles ocorreu. Estes os motivos pelos quais me parece que a Copa do Mundo deixa um saldo positivo, a partir de agora, que eu presumo perdure no tempo. Os visitantes levaram consigo a imagem de um país que não lhes deve haver desagradado.


* Jurista, ministro aposentado do STF

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