13
de julho de 2014 | N° 17858
MARTHA MEDEIROS
Copa
rock´n´roll
Hulk
na guitarra, Cahill no baixo, Maya Yoshida na bateria e Eto´o no vocal. Essa é a
banda de rock que entrou no palco para tocar Paradise City, do Guns nRoses. Não
é delírio meu, e sim um inusitado comercial de cerveja que começou a ser
veiculado antes do início da Copa, com craques das seleções de Brasil,
Inglaterra, Japão e Camarões brilhando em outro campo. Para quem está acostumado
a ver o futebol associado ao pagode, a ideia publicitária pode ter parecido
estapafúrdia, mas eu achei coerente. Toda Copa é meio rocknroll.
Mais
de uma vez escrevi sobre minha paixão pelo rock (e pelo blues que lhe deu
origem). Por mais que admire outros gêneros musicais (jazz, soul, pop, bossa
nova), tenho com o rock uma afinidade que extrapola o simples gostar – tanto
que o uso como adjetivo.
Criança
ainda, vibrava com Janis Joplin, Tina Turner e Rita Lee, que, através da sua música,
traduziam uma essência difícil de transmitir em palavras. Nada nelas era
conveniente em se tratando de “mocinhas”, e sim provocativo, sexy, autêntico,
livre. Não era um som para relaxar, e sim para impulsionar, produzir reações físicas,
alterar comportamentos. Por mais surrado que seja o termo, é o que se chama, até
hoje, de “atitude”.
Da
mesma forma, tive pelos Beatles e Rolling Stones a mesma reverência que muitos
têm por Bach, Mozart, Chopin – a existência de gênios clássicos não elimina a
influência de simples mortais que também emocionam. Exatamente há um ano, estive
num espaço aberto maior do que o Maracanã para assistir ao vivo, pela primeira
vez, a um show dos Stones, e quando eles entraram em campo fiz o mesmo que
Thiago Silva, David Luiz, Julio Cesar: chorei. Pois é. O rock, parente de Satanás,
costuma me conectar com meus instintos mais primitivos, enquanto os anjos tapam
os olhos.
Hoje,
13 de julho, Dia Mundial do Rock, é dia também do encerramento dessa Copa em
que o primitivismo esteve flagrante nos gramados, através de lances que
combinaram mais com guitarras do que com pandeiros. O ilícito e o lícito
disputando a bola com atrevimento, garra, provocação, jogo de quadris, paixão,
rebeldia, sensualidade – e atletas venerados como rockstars. Tudo muito
exagerado, mas bem-vindo, nem que seja de quatro em quatro anos.
Esse
texto foi entregue com uma antecedência que me impede saber quem estará decidindo
o título neste domingo, mas, seja quem for, que provoque pela última vez, em
cada torcedor, a excitação recorrente no rock, aquela que faz a gente trocar o
etéreo pelo visceral, o recato pela explosão, já que na segunda-feira o barulho
inevitavelmente diminuirá. Retornaremos à alegria comedida, a um ritmo menos
eletrizante, a um jeito de viver mais sossegado, à normalidade dos dias, à trivialidade
popular brasileira.
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