ANDRÉIA
SADI - VALDO CRUZ - DE BRASÍLIA
Ex-ministro de Lula é pivô de crise no
comitê de Dilma
Franklin
Martins ameaça deixar coordenação após embate com assessores
Coordenador
havia publicado crítica à CBF e se recusou a retirá-la do ar; petistas dizem
que isso criou 'tensão'
O
comitê da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff enfrenta sua
primeira crise interna na largada oficial da disputa eleitoral e corre o risco
de perder um de seus coordenadores.
Ex-ministro
do governo Lula, Franklin Martins, responsável pelo site da campanha --o
"Muda Mais"--, entrou em atrito com interlocutores da presidente por
causa de um post sobre a CBF, publicado depois do que foi classificado como
"terrível eliminação da seleção".
Irritado,
ele chegou a ameaçar deixar a campanha depois que integrantes do comitê ligados
a Dilma pediram que fosse retirado o texto que apontava a CBF como responsável
pela desorganização do futebol. "Impera na CBF um sistema que em nada
lembra uma instituição democrática e transparente. É preciso mudar", diz o
texto do site.
O
pedido de retirada do post, no mesmo dia em que Dilma reclamou com o ministro
Aldo Rebelo (Esporte) sobre suas declarações defendendo uma intervenção no
futebol, não foi atendido por Franklin.
Lula
entrou no circuito e tentou acalmar seu ex-ministro, de quem é muito próximo,
buscando demovê-lo da ideia de deixar a equipe. O tema vai ser discutido na
reunião de coordenação da campanha nesta segunda (14).
Amigos
de Franklin confirmam o atrito por causa do post, considerado como "coisa
normal na temperatura elevada de eleição", mas negam que ele tenha
ameaçado deixar a equipe.
Logo
depois da derrota, Dilma buscou encampar a bandeira de reformulação do futebol,
defendendo mais profissionalismo. Mas ficou preocupada com o risco de a
oposição associá-la a uma estratégia populista, além de reforçar a crítica a
seu estilo intervencionista.
Assessores
da petista disseram à Folha que a nota da equipe de Franklin foi além do ponto
e, em vez de ser propositiva, criou "tensão desnecessária" e um
"sentimento de guerra equivocado".
Esse
não é o primeiro atrito entre Franklin e dilmistas na organização da campanha
de reeleição. Nome de Lula, ele tem sido "escanteado" no processo de
decisões.
Nas
discussões sobre estratégia de comunicação, João Santana acaba levando a
melhor. Desde que defendeu, numa reunião de coordenação no Palácio da Alvorada,
que Dilma fosse para o embate político, Franklin não se encontrou a sós com
ela.
Ele
não gostou, por exemplo, de não ter participado da elaboração do Plano Nacional
de Transformação, anunciado com pompa por Dilma na convenção do PT, no último
dia 21. Neste caso, não foi só Franklin quem ficou chateado. Na época, apenas
Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e João Santana sabiam da
ideia.
Por
sinal, outra definição sobre a campanha criou desconforto entre Franklin e
outros membros da equipe. Ele tentou convencer a presidente que o slogan
"Muda Mais" era melhor que o "Mais Mudanças, Mais Futuro",
proposto pelo marqueteiro.
Na
reunião, Santana explicou a escolha do mote, e o slogan lançado foi o
"Mais Mudanças, Mais Futuro".
NOVO
ESTILO
Independentemente
da saída de Franklin, haverá mudanças. O novo estilo de coordenação da campanha
mostra que sai de campo o comando único que imperou em 2010, quando a direção
era do então presidente Lula. Entra em cena um duplo comando, que obriga a
cúpula de campanha a se equilibrar entre visões nem sempre coincidentes de
lulistas e dilmistas.
Na
última eleição, Lula era o todo-poderoso. Dava as cartas e tinha um grupo de
três assessores de peso --Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e José Eduardo
Dutra.
Neófita
na política, Dilma só seguia ordens de como se comportar nos embates políticos,
sob o treinamento de João Santana. Agora que já não se sente mais como
debutante, Dilma promoveu uma renovação quase integral na sua equipe e será
mais ativa na definição das estratégias eleitorais, tomando as principais
decisões ao lado de Lula.
Em
2014, o comando da campanha está mais diluído entre os petistas, que costumam
se reunir às segundas-feiras no Palácio da Alvorada para definir as
estratégias.
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