17 de julho de 2014 | N°
17862
EDITORIAL ZH
QUESTÃO HUMANITÁRIA
O país precisa definir logo uma
política mais clara para os imigrantes em situação irregular, particularmente
nos casos que envolvem questões humanitárias.
Mais habituado, até recentemente,
a lidar com os dramas enfrentados por brasileiros que migravam em busca de
melhores condições de vida no Exterior, o Brasil está agora diante de uma
situação inversa: a de encontrar alternativas para imigrantes em busca de uma
oportunidade em seu território. O caso mais recente é o de centenas de ganeses
que, em meio à onda de turistas atraídos pela Copa do Mundo, decidiram se
instalar no país, particularmente em cidades com maior potencial de oferecer emprego.
É o caso de Caxias do Sul, para
onde o governo federal decidiu ontem enviar uma missão na próxima
segunda-feira, e de Criciúma (SC). Diante das dimensões atingidas pelo
fenômeno, porém, o país precisa definir de forma mais clara como deve agir em situações
como essas, que se mostram cada vez mas corriqueiras.
Desde 2010, quando milhares de
haitianos começaram a ingressar no Brasil, depois de terem enfrentado um
terremoto em seu país, o fluxo de quem ingressa principalmente pelo Acre tem
sido contínuo. Já passaram pela região, na fronteira entre Brasil e Peru,
imigrantes do Senegal, República Dominicana, Tanzânia, Colômbia, África do Sul,
Nigéria, Libéria, Zimbábue e Bangladesh.
Assim como os ganeses, que
intensificaram a vinda durante a Copa, a maioria vem em busca de uma
oportunidade de trabalho em áreas que demandam menos qualificação, como
construção civil. A questão é que, além de a situação econômica preocupar, só
há amparo legal no caso de refugiados, o que implica perseguição política no país
de origem.
Ainda assim, como reconheceu o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista ontem à Rádio Gaúcha,
o país tem no mínimo um dever ético e humanitário diante de situações como
essa. Emergencialmente, é correta a orientação do governo federal de determinar
um levantamento de oportunidades, em todo o país, de ocupação temporária para
trabalhadores ganeses. Mas têm de ser encontradas alternativas dentro da lei
para contornar entraves como os que limitam assinaturas de convênios entre a União
e outras instâncias da federação durante a campanha eleitoral.
Nem os municípios, nem os Estados
têm condições de assumir sozinhos os custos de receber e manter contingentes
tão expressivos de estrangeiros.
O país precisa definir logo uma
política mais clara para os imigrantes em situação irregular, particularmente
nos casos que envolvem questões humanitárias.
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