domingo, 20 de julho de 2014


20 de julho de 2014 | N° 17865
PAULO SANT’ANA

Só vendo como dói

Se eu tivesse de escolher um só defeito da Natureza ao criar o homem, escolheria a dor.

Dizem que a dor é uma forma da Natureza para avisar a pessoa de que algo está errado em seu organismo. Está bem, mas a Criação tinha de ter arranjado outra forma de alarme que não fosse a dor.

Porque a dor é muito cruciante.

Eu nem sei como é que, antes da invenção da anestesia, faziam para extrair os dentes. Deve ter sido um parto.

Sofri muito, quando era criança e jovem, com dores de dente. E eu via muitos meninos com os rostos totalmente deformados por inchume quando estavam com dor de dente, parecia uma caxumba.

Dizem que a dor mais forte que existe é a renal, pedra nos rins, por exemplo. E dizem também que a dor do parto é terrível, agora amenizada pela cesariana.

Nunca tive, por óbvio, essas duas dores, já me bastaram as dores de dente que sofri. Mas também ouvia falar que a dor de ouvido era insuportável.

Agora mesmo, tenho sido alvo de uma dor. É que torci a falange do dedo médio da mão direita e inchou. Enquanto não desincha, vou sentindo uma dor muito forte. Para desinchar vai demorar um mês.

Mas nem se compara com a dor renal e a dor do parto.

Qualquer pancada ou choque nos dedos causa dor candente. Acho que por causa das unhas, unha encravada dói pra burro.

Além das dores físicas, são inclementes as dores morais, entre elas, diz-se, a dor de cotovelo, a dor da perda do ser amado, a dor da paixão abandonada.

Como dor moral expressiva está também a morte de uma mãe, de um pai, de um filho, de qualquer ser querido – só vendo como é que dói.

Entre as dores morais derrubadoras está também a perda do emprego. Fiquei sabendo que um amigo meu perdeu esses dias seu emprego e senti dor moral por ele, vejam só...

Se doeu em mim, imaginem nele.

E se vão por aí as dores morais, até mesmo perder uma partida ou um campeonato. Os 7 a 1 contra a Alemanha, por exemplo.


Só vendo como é que dói.

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