sábado, 12 de julho de 2014


12 de julho de 2014 | N° 17857
DAVID COIMBRA

UMA DOR QUE NÃO ACABA

A pena que senti dos jogadores do Brasil acometeu-me antes da humilhação contra a Alemanha. Deu-se, mais precisamente, depois do jogo com a seleção chilena.

Critiquei com dureza a Seleção naquela partida, mas, depois, refletindo sobre o que vira, compreendi a terrível tensão pela qual estavam passando os jogadores, tensão que explodiu no segundo gol da Alemanha, terça-feira passada, tirou o time fora dos seus eixos e produziu os mais trágicos seis minutos da história do futebol brasileiro em todos os tempos.

Imagino o que esses jogadores passaram. Eles tinham vencido uma Copa das Confederações na superação, no grito da torcida, na emoção do hino cantado a capela pela primeira vez. No íntimo de cada um deles fermentava a esperança de que aquelas condições se repetiriam. Mas a Copa das Confederações é um torneio menor. Na Copa do Mundo, as seleções entram no máximo da sua preparação física, tática, técnica e psicológica. 

Numa Copa do Mundo do século 21, participam atletas capazes de voar durante 120 minutos, como um Robben. Participam profissionais com explosão muscular, resistência, velocidade e força como jamais houve na história do esporte. Não é por acaso que o Uruguai foi amassado pela Costa Rica quando cometeu a temeridade de escalar dois veteranos entre os titulares.

Então, lá estavam os jogadores do Brasil por fim reunidos, esperando que a mágica do ano passado se repetisse. Não se repetiu, e eles perceberam isso já no primeiro jogo. E as críticas vieram e, junto com as críticas, a pressão do ambiente. Eles estavam em casa, sob as vistas de seus amigos, familiares e desafetos. O país esperava tudo deles. Mas eles não estavam preparados, eles não tinham uma ideia pálida do que representava disputar uma Copa do Mundo dentro do seu próprio país.

Foi o que percebi, naquele jogo com o Chile. Por isso, senti pena. Os jogadores estavam desamparados inclusive por sua comissão técnica. Faltou proteção tática ao time na partida contra a Alemanha. O Brasil não poderia enfrentar aquela bem azeitada máquina de jogar futebol com apenas três jogadores no meio-campo. Foi um erro fatal. Cometido o erro, veio o primeiro revés. Vindo o revés, somado à tensão acumulada, veio o descontrole; vindo o descontrole, veio o desastre.


Neste sábado, contra a Holanda, o Brasil tem, apenas, de evitar novo desastre. Um meio campo bem fornido, com três volantes e dois meias; um deles, Oscar, um pouco mais liberado para se juntar ao homem de frente, sendo este talvez Hulk, um esquema assim parcimonioso pode dar a vitória ao Brasil. É pouco para o Brasil o terceiro lugar, sobretudo depois do fiasco de terça, mas vencer é sempre um alívio, embora essa dor, todos sabem e sempre temeram, jamais passará.

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