29
de julho de 2014 | N° 17874
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
A ROTUNDIDADE DA
TERRA
Matéria
do meu tempo de curso primário, obrigatória, que caía em provas, era esta: as
provas de que a Terra era redonda, ou, em português de usar em domingos e
feriados, as provas da rotundidade da Terra. Esses dias, num sonho, me voltou
esse tema, na forma da pergunta que acho que estava no livro de Geografia,
talvez do quarto ano: quais as provas de que a Terra é redonda?
Eram
três, se me lembro bem. Uma era uma prova empírica que qualquer um poderia
reproduzir: ao olharmos fixamente para um navio que parte para alto-mar, vamos
vendo-o desaparecer lentamente, e não abruptamente, porque a Terra é redonda;
se fosse um plano que acabasse, o navio simplesmente desapareceria, de uma vez
só.
A
segunda prova era o depoimento dos navegantes do tempo das chamadas grandes
descobertas, que viam o horizonte arredondado. A terceira prova vinha escrita
numa frase que agora me parece um sintoma da passagem do tempo: “as recentes
fotos dos satélites”, que mostravam nosso planeta em corpo inteiro.
Primeiro
me veio essa lembrança, depois ela me pareceu estranha, e logo em seguida
totalmente justificada. Estamos por viajar, nós aqui de casa, para uma
temporada longa fora do país. E será uma viagem que, observada a conveniente
distância, a partir do espaço aéreo, vai percorrer um significativo trecho do
planeta – se fôssemos de navio, como se usava até duas gerações atrás, era bem
possível que o pessoal no cais, abanando um lencinho para nós, visse a
embarcação desaparecer devagarinho, aos poucos, afundando no horizonte, numa
comprovação do dito fenômeno.
Mas
não, vamos de avião, em que nada se pode ver direito, nem da terra, nem de
dentro dele. Mas vai conosco a certeza de que a Terra é redonda, como qualquer
um pode ver, agora em variadíssimas modalidades de observação, por exemplo o
Google Earth.
As
novas gerações nascem já sem o conflito embutido naquela pauta obrigatória – no
fundo, é fácil ver que a escola ainda fazia força para comprovar a rotundidade
do planeta, contra nossos pais e avós, seres ainda dubitativos sobre tanta
coisa.
A
Terra é redonda e dá voltas. Em seguida nos vemos de novo nas ruas e nas atividades
dessa Porto Alegre tão querida.
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