terça-feira, 1 de julho de 2014


01 de julho de 2014 | N° 17846
VERÍSSIMO NA COPA

JOGO DE CÃIBRAS

Alemanha e Argélia provaram: jogo com muitas cãibras é jogo emocionante. Em número de jogadores que acabaram a partida sem pernas, prevaleceu a saúde e a melhor alimentação desde a infância dos alemães, mas a vantagem foi pequena. As cãibras contam a história do jogo. Sensacional.

INVEJA

A inveja é um sentimento baixo. É um dos pecados capitais, e consiste em desejar o que os outros têm e nós não temos, seja felicidade, beleza, simpatia, popularidade, conta na Suíça ou – no caso do futebol – no meio de campo. Vendo o jogo da França com a Nigéria, ontem, senti que a inveja me invadia como um veneno. Tentei reagir, apelar para meus melhores sentimentos, me convencer que o que eu sentia era torpe e tóxico, mas em vão. A inveja me ocupou de cima a baixo, devo ter rosnado de inveja. E o que eu invejava era o meio-campo da França. Invejava Cabaye, Matuidi e Pogba.

Sim, tenho vergonha de dizer que bradei aos céus contra aquela injustiça, a França ter Cabaye, Matuidi e Pogba, e o meu time não ter nada parecido. Todos os ataques da Nigéria tinham que passar por Cabaye, Matuidi e Pogba para chegar na grande área da França e todos os ataques da França passavam por Cabaye, Matuidi e Pogba a caminho da grande área da Nigéria. Isso é que se chama de um meio-campo presente e não aquele vácuo no meio da nossa Seleção. Terminado o jogo me resignei: o mundo é desigual, e a ultima coisa que o destino pensa quando distribui as camisetas é em equanimidade, que ele provavelmente nem sabe soletrar. Mas não posso deixar de sonhar. Ah, Cabaye, Matuidi e Pogba no meu time...

ADRIANA

Teve gente que discordou da minha opinião sobre reconhecimento do campo, aquela prática inútil do time ir com antecedência a um estádio em que nunca jogou para se familiarizar com a grama, as arquibancadas etc . Entre os que protestaram estava a Adriana Calcanhoto. Na sua coluna de O Globo, há dias, a querida Adriana argumentou que o “reconhecimento” pode ser inútil para o time, mas inspirador para um jogador que vê o estádio vazio como uma tela em branco na qual ele se projeta como vencedor, herói do jogo que se aproxima, e vê sua própria vida e sua luta até o momento de entrar no estádio cheio, para brilhar.


O “reconhecimento” seria um instante ao mesmo tempo de concentração e devaneio. Impossível não concordar com interpretação tão poética. Mesmo porque, diante daqueles olhos, é impossível não dar tudo à Adriana. Inclusive razão.

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