18 de julho de 2014 | N°
17863
DAVID COIMBRA
O nosso modelo
Tem uma praça aqui perto de casa.
Praça grande, quase parque. É toda cercada por uma grade baixinha, da altura da
minha cintura. A grade não serve para impedir o acesso à praça, até porque os
portões nunca são trancados. Serve para evitar que crianças pequenas se
derramem pela calçada, porque essa é uma praça para crianças. Homens sozinhos
não podem entrar, só se estão cuidando de crianças. Se um homem sozinho entra
na praça, em um minuto chega uma viatura, e os policiais mandam que saia. Se
não sair, algemam-no e o levam preso.
Na praça, há um jardim
comunitário, com rosas do tamanho de um punho de boxeador. Há brinquedos de
todos os tipos e, debaixo daqueles em que as crianças sobem, como o
trepa-trepa, o piso é de borracha, para que elas não se machuquem, caso caiam.
As crianças brincam com triciclos, motocas e patinetes públicos. Quando vão
embora, deixamnos debaixo de alguma árvore ou na grama mesmo, largam-nos onde
bem entendem, e é lá que ficam. Você passa pelo lugar à noite e vê os
brinquedos ali. Ninguém pega.
Cada vez que olho para a praça,
fico um pouco triste, por saber que um lugar assim é inviável em qualquer
grande cidade brasileira. A falta de educação e a falta de segurança roubam a
cidade do cidadão. O cidadão brasileiro tornou-se, melancolicamente, um cidadão
de segunda classe, um excluído de sua própria cidade.
Outro dia, encontrei na praça uma
brasileira que vive há 30 anos em Boston. É uma mineira, há muitos mineiros por
aqui. Ela trabalha de babá para uma americana de boas posses. A folhas tantas,
sem nenhuma pretensão, com absoluta casualidade, ela disse uma frase que me fez
pensar:
– Aqui, neste país, em primeiro
lugar estão as crianças, em segundo os velhos e em terceiro as mulheres.
Ela tem razão. É isso mesmo. Nos
Estados Unidos, o poder público pende com naturalidade para a proteção de
crianças, idosos e mulheres. Um estágio mais avançado da civilização. Um modelo
a ser seguido. É nesse tipo de sociedade que o Brasil tem de se espelhar: nos
Estados Unidos e no Canadá, na Europa Ocidental, na Austrália e na Nova
Zelândia, no Japão e na Coreia do Sul.
E em Israel.
Israel é uma democracia que
respeita seus cidadãos. Lá, as crianças têm educação, e as mulheres não são
obrigadas a sair na rua debaixo de lençóis pretos. Israel tem a ver conosco,
com o Brasil, ou com o tipo de Brasil que os brasileiros querem.
Agora, nesse conflito entre
Israel e o Hamas, vejo pessoas do Brasil e até algumas aqui dos Estados Unidos
gritando contra um suposto genocídio de palestinos, protestando contra a ação
do exército israelita. Ora, pelo que se noticia, o Hamas também lança bombas em
direção a Israel. Os foguetes só não matam mais gente porque Israel tem um
sistema de defesa que os abate em meio ao voo. Quer dizer: há intenção de
genocídio do outro lado, só que o outro lado é incompetente na defesa de seus
cidadãos.
Os judeus são perseguidos há
cinco mil anos. São submetidos a diásporas, pogroms e guerras de extermínio.
Parece que o Ocidente só consegue aceitá-los como vítimas. Justo o Ocidente, do
qual os judeus são cofundadores. Não é algo novo. É algo conhecido como
antissemitismo. O antissemitismo velho como sal do Mar Morto, como as pedras
das pirâmides, como a poeira nas sandálias de Abraão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário