segunda-feira, 21 de julho de 2014


21 de julho de 2014 | N° 17866
L.F. VERISSIMO

Ecos

Um jornal de Porto Alegre fazia a cobertura do Carnaval em todo o interior do Estado e, depois do Carnaval, todas as semanas publicava uma foto dos (como se dizia na época) “folguedos de Momo” em determinada cidade, com a legenda “ecos do Carnaval em...” e o nome do lugar.

Era uma maneira prática de o jornal encher espaço, porque os “ecos” duravam o ano inteiro. Ninguém mais se lembrava do Carnaval, mas os “ecos” continuavam. Viraram uma seção permanente do jornal, pois era só escolher uma cidade e uma foto e estavam prontos os “ecos” da semana. E não faltavam cidades e fotos do seu Carnaval para serem lembradas até o Carnaval seguinte.

Há fatos que ecoam através dos tempos, e cujos ecos persistem quando as suas causas parecem esquecidas como velhos carnavais. O Mao Zedong não quis dizer outra coisa quando lhe perguntaram quais, na sua opinião, tinham sido os efeitos da Revolução Francesa na história do mundo e ele respondeu “É cedo para saber”.

Mao ainda ouvia os ecos do fato, que enquanto ecoasse não poderia ser definitivamente avaliado. Para os que ouvem, os ecos da Revolução Francesa soam como clarins da guerra entre as duas proto-ideias de como a história do mundo deve e não deve ser. O que Mao disse é que dois séculos não bastam para saber o resultado de uma guerra.

Mudando de Mao a pior, durante quantos anos ecoarão entre nós os 7 a 1 da Copa? Gerações ainda por vir lembrarão dos seis minutos que nos destroçaram a alma, até que chegue o bendito silêncio do esquecimento. Que talvez nem chegue, e num remoto futuro, em certas noites sem grilos, latidos ou briga no vizinho, se ouvirá “Seteaum, seteaum...” . Mas, se tiverem sorte, confundirão o eco com o ruído de apenas mais um foguete disparado para Marte, e dormirão tranquilos.

TRISTEZA

Infelizmente, convivemos pouco, eu e o João Ubaldo. Estivemos juntos mais em Copas do Mundo do que no Brasil. Mas encontrá-lo era sempre uma alegria. É triste saber que não nos encontraremos mais.

PAPO VOVÔ


Nossa neta de seis anos acordou sorrindo e disse que tinha tido um sonho bonito. Perguntei: “Com quem você sonhou, Lucinda?” E ela: “Comigo”.

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