21
de julho de 2014 | N° 17866
L.F.
VERISSIMO
Ecos
Um
jornal de Porto Alegre fazia a cobertura do Carnaval em todo o interior do
Estado e, depois do Carnaval, todas as semanas publicava uma foto dos (como se
dizia na época) “folguedos de Momo” em determinada cidade, com a legenda “ecos
do Carnaval em...” e o nome do lugar.
Era
uma maneira prática de o jornal encher espaço, porque os “ecos” duravam o ano
inteiro. Ninguém mais se lembrava do Carnaval, mas os “ecos” continuavam. Viraram
uma seção permanente do jornal, pois era só escolher uma cidade e uma foto e
estavam prontos os “ecos” da semana. E não faltavam cidades e fotos do seu
Carnaval para serem lembradas até o Carnaval seguinte.
Há fatos
que ecoam através dos tempos, e cujos ecos persistem quando as suas causas
parecem esquecidas como velhos carnavais. O Mao Zedong não quis dizer outra
coisa quando lhe perguntaram quais, na sua opinião, tinham sido os efeitos da
Revolução Francesa na história do mundo e ele respondeu “É cedo para saber”.
Mao
ainda ouvia os ecos do fato, que enquanto ecoasse não poderia ser
definitivamente avaliado. Para os que ouvem, os ecos da Revolução Francesa soam
como clarins da guerra entre as duas proto-ideias de como a história do mundo
deve e não deve ser. O que Mao disse é que dois séculos não bastam para saber o
resultado de uma guerra.
Mudando
de Mao a pior, durante quantos anos ecoarão entre nós os 7 a 1 da Copa? Gerações ainda por vir
lembrarão dos seis minutos que nos destroçaram a alma, até que chegue o bendito
silêncio do esquecimento. Que talvez nem chegue, e num remoto futuro, em certas
noites sem grilos, latidos ou briga no vizinho, se ouvirá “Seteaum, seteaum...”
. Mas, se tiverem sorte, confundirão o eco com o ruído de apenas mais um
foguete disparado para Marte, e dormirão tranquilos.
TRISTEZA
Infelizmente,
convivemos pouco, eu e o João Ubaldo. Estivemos juntos mais em Copas do Mundo
do que no Brasil. Mas encontrá-lo era sempre uma alegria. É triste saber que não
nos encontraremos mais.
PAPO
VOVÔ
Nossa
neta de seis anos acordou sorrindo e disse que tinha tido um sonho bonito. Perguntei:
“Com quem você sonhou, Lucinda?” E ela: “Comigo”.
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