RUTH
DE AQUINO - 25/07/2014 20h29 - Atualizado em 25/07/2014 20h34
O eleitor
bolado
Dilma,
Aécio e Campos, podem começar a treinar o “Lepo Lepo” – com dancinha sensual e
tudo o mais
O
eleitor brasileiro está bolado. Não sabe mais em quem quer votar. É bem mais
fácil encontrar quem diga “tudo menos Dilma” ou “tudo menos Aécio”. Nesta
eleição das eleições, o grande campeão antecipado parece ser o voto da
rejeição. A maior batalha do eleitor consciente é contra o oportunismo e as ilusões
do marketing. Se o Brasil quiser mais tempo para debater os temas incluídos
naquelas três letrinhas mágicas, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o
melhor candidato é o segundo turno.
Até
agora, na ressaca da Copa e no recesso sem-vergonha do Congresso, o eleitor só
sabe que todos os candidatos prometem mudar. E que a coerência morreu. A
presidente petista Dilma Rousseff anuncia que terá comitê evangélico e esquece
que um dia defendeu o direito das mulheres ao aborto. Promete subir em todos os
palanques. Quer ressuscitar o perfil satírico da Dilma Bolada, criado por um
publicitário no Facebook, com o dobro de seguidores do perfil oficial.
O
candidato tucano Aécio Neves defende o programa Mais Médicos e qualquer outro
projeto que o aproxime do povão. Eduardo Campos, do PSB, tem duas caras-
metades que nunca deram liga: Marina e Alckmin. Todos os candidatos prometem
transparência, eficiência e mudança.
Dilma,
Aécio e Campos são contra “os ativistas”, uma denominação que generaliza e
empobrece os protestos legítimos de 2013. Elisa de Quadros Pinto Sanzi, a
Sininho, não tem estofo para ser heroína nem vilã. Errática, aloprada, ela não
representa quem lotou as ruas e acordou o PT de sua letargia e de seu
distanciamento dos jovens. Ninguém me convencerá de que a Sininho é líder de
nada. A moça jamais sonharia com tamanho status. “Mentora de toda a quadrilha”,
segundo a polícia? Dizer que essa moça, Sininho, ameaça a democracia é levantar
demais a bola dela. Ativistas arrependidos ajudaram a polícia a “montar o
organograma do comando do grupo”? Menos, gente. Daqui a pouco, alguém falará em
guerrilha.
À
saída da penitenciária de Bangu, os amigos protegeram uma Sininho pululante de
fotos. Como? Agrediram jornalistas e quebraram câmeras de repórteres fotográficos.
Um enredo de quinta categoria do início ao fim. Há muitas outras maneiras menos
espetaculosas e mais sensatas de impedir atentados à ordem urbana do que
distribuir golpes de cassetete em moças de jeans. Ou algemar um bando de
“ativistas”. Era tão claro que eles receberiam o benefício do habeas corpus.
Criar jovens mártires é uma atitude tão contraproducente e ingênua quanto pedir
asilo no consulado do Uruguai. Uma bobagem só, que não merece manchete.
O
novo eleitor, bolado com a repressão, a recessão e a violência, lê então na
imprensa que os candidatos estão empenhados em atrair o voto da juventude.
Dilma é a mais empenhada porque é na rapaziada que ela enfrenta a maior
rejeição. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 45% dos jovens entre 16 e 24 anos
dizem que não votariam em Dilma em hipótese alguma no primeiro turno. Segundo a
mesma pesquisa, num eventual segundo turno, 46% dos eleitores de 16 a 24 anos votariam em Aécio, e 39% em
Dilma.
Por
que a estrela vermelha não cativa mais os jovens? Porque eles se sentem traídos
por um partido que se dizia de esquerda, prometia lisura e ética e acabou
aliado a José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor e companhia. Se os
jovens querem mudar “tudo isso que está aí”, como votar na continuidade do
único governo que conhecem e que há 12 anos se mantém no poder? Eles eram
crianças, tinham entre 4 e 12 anos, quando Lula foi eleito pela primeira vez.
Para tirar proveito dessa fraqueza de Dilma, Aécio tem o apoio de um poderoso
porta-voz. José Júnior, fundador e coordenador do AfroReggae, líder de projetos
de inclusão entre a moçada da periferia, conversará com os jovens em nome dele.
Mais
que o jovem, o eleitor cortejado é o povão, que não quer só eletrodoméstico,
mas comida, educação, saúde e emprego. O perfil do eleitor bolado está no maior
hit da Copa, o “Lepo Lepo”. Atenção, candidatos, decorem:
Ah,
eu já não sei o que fazer/
Duro,
pé-rapado e com o salário atrasado/
Ah,
eu não tenho mais pra onde correr/
Já
fui despejado, o banco levou o meu carro/
Eu
não tenho carro, não tenho teto/
E se
ficar comigo é porque gosta/
Do
meu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo/
É
tão gostoso quando eu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
O
cantor, Márcio Victor, diz que o “Lepo Lepo” é “a música do povo, é o que o
povo quer ouvir”. Dilma, Aécio e Campos, comecem a treinar o “Lepo Lepo”, com o
gestual sensual e tudo o mais. Se perguntarem em algum debate televisivo, o
ritmo é o arrochanejo. Mistura de arrocha com sertanejo, pagode e axé. A cara
do Brasil.
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