ELIO
GASPARI
Na paixão da guerra, um herói de
caráter
Charlie
Brown levou 47 anos para entender o com-portamento daquele piloto alemão numa
tarde de 1943
Ao
final de um mês de paixões, tristezas, alegrias e cavalheirismo, aqui vai uma
história na qual esses ingredientes se misturaram no pior dos cenários, o da
guerra.
Em
março de 1946, um ano depois da derrota da Alemanha, Franz Stigler estava em
busca de trabalho quando foi reconhecido pela boa qualidade de sua botas. Eram
as botas dos pilotos da Luftwaffe, aqueles que, segundo a propaganda do
governo, salvariam a Alemanha da derrota. Dos 28 mil pilotos do Reich, haviam
sobrado só 1.200, mas ele foi reconhecido e insultado pelos compatriotas. Esse
pedaço da vida mostrou-lhe que as botas da glória haviam-se transformado em
marca de opróbrio. Franz não era um homem qualquer, mas, em 1946, ninguém
haveria de se lembrar dele.
Salvo
Charlie Brown. Três anos antes, Franz pilotava um caça Bf-109, protegendo o
norte da Alemanha, quando alcançou um B-17 de uma esquadrilha que bombardeara a
região de Bremen. O avião americano estava em pandarecos. Ele podia ver
tripulantes feridos e rombos na fuselagem. Tirou o dedo do gatilho e emparelhou
seu caça com o bombardeiro. Aquele avião não podia estar voando. Charlie Brown,
o piloto do B-17, esperava apenas pelos últimos tiros.
Viu
o piloto alemão movendo a cabeça num incompreensível sinal afirmativo e achou
que estivesse sonhando. Franz escoltou o B-17 durante dez minutos. Quando ele
se aproximou da costa da Inglaterra, balançou as asas e voltou para a base
alemã: "Não se atira em paraquedista. O avião estava fora de combate. Eu
não carregaria isso na consciência".
Charlie
contou aos seus superiores o que lhe acontecera, mas mandaram-no ficar calado,
pois propagaria um episódio capaz de comover os colegas com a ideia de que
havia alemães civilizados.
Franz
sobreviveu à guerra, mudou-se para o Canadá e só contou sua história em 1985.
Não sabia o que acontecera ao B-17. De 12 mil bombardeiros, 5.000 haviam sido
destruídos em combate. Na outra ponta, Charlie Brown, que vivia na Flórida,
sonhava em encontrar aquele alemão. Escreveu uma carta para uma revista,
descrevendo o estado de seu avião, com o cuidado de omitir um importante
detalhe. Em 1990 os dois encontraram-se. Franz tinha 75 anos, e Charlie, 68. O
alemão lembrou-lhe que o B-17 estava com o estabilizador destruído. Era o
detalhe omitido.
Pouco
depois, todos os sobreviventes do B-17 reuniram-se, levando suas famílias. Eram
25 homens e crianças que deviam a vida a um homem que não apertou o gatilho.
Franz
morreu em março de 2008. Charlie, em novembro.
Serviço:
Essa história está contada no livro "A Higher Call", de Adam Makos
(custa US$ 9,99, na rede), e vai virar filme.
CONTAS
Ficando
no Supremo Tribunal Federal até 6 de agosto, o ministro Joaquim Barbosa poderá
organizar melhor a transferência do seu gabinete para o sucessor. Lateralmente,
terá direito também a receber o adicional de um terço de um salário, que
perderia se fosse embora logo. Juntando tudo, dá pouco mais de R$ 10 mil.
COÊLHO
NO STF
Se
há alguém trabalhando para que Marcus Vinicius Coêlho, presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, seja nomeado para a vaga do ministro Joaquim Barbosa no
Supremo Tribunal Federal, é possível que esteja usando seu santo nome em vão.
Há poucos dias, ele assegurou que não pretende deixar a OAB, interrompendo um
mandato que vai até 2016. O doutor garante isso desde janeiro. Ele prometia que
em seu mandato realizaria um plebiscito entre os advogados para decidir se a
eleição indireta é a melhor forma para a escolha da direção da OAB e dizia-se
disposto a colocar as contas da instituição na internet.
JOÃO
CABRAL
Acaba
de sair pela Editora da Unicamp o livro "Imaginando João Cabral
Imaginando", da professora Cristina Henrique da Costa. É um mergulho na
obra do poeta, inclusive na sua produção anterior a 1950.
Um
tesouro para seus estudiosos, com surpresas para quem vê na sua obra
racionalidade demais e subjetividade de menos.
CONTAS
SUÍÇAS
Se
tudo correr bem, um cacique do banco UBS fecha com a Prefeitura de São Paulo um
acordo para ressarcir a Viúva por causa dos depósitos de Paulo Maluf que
acolheu ao tempo em que ele governava a cidade.
O
PADRÃO CBF
Ao sair
da CBF, Ricardo Teixeira deixou um jatão de 18 lugares e um helicóptero Agusta
de 15, que custou 14 milhões de dólares.
Nos
últimos anos, o Agusta foi usado como táxi pelos presidentes José Maria Marin e
Marco Polo Del Nero, que moram em São Paulo, para seus deslocamentos até o Rio
de Janeiro, pousando perto da CBF.
Esse
é o padrão de maganos que vivem como milionários com os recursos alheios.
O
PADRÃO MELLON
A
casa de leilões Sotheby's ganhou a disputa para leiloar a coleção de arte de
"Bunny" Mellon, que morreu em março passado, aos 103 anos. No seu
sobrenome brilha o padrão dos milionários americanos da Nova Inglaterra.
Será
coisa de mais de 100 milhões de dólares em obras de arte, joias e móveis. O
dinheiro irá para uma fundação que cuida da biblioteca pública onde estão os
livros raros que ela e o marido doaram. Ele, Paul, era filho de Andrew Mellon,
que deu aos Estados Unidos o núcleo central da National Gallery de Washington.
Passou a vida dando o que tinha. Bailarinas de Degas, como a do Masp, deu duas.
Morrendo, chamou os amigos para que levassem suas roupas, desde que lhe
deixassem um terno para a última saída.
"Bunny"
ajudou a inventar Jacqueline Kennedy. Magistral jardineira, cuidou das flores
no enterro do presidente. Ela não era uma milionária emergente, das que têm
avião. Tinha aeroporto. Quando a atriz Audrey Hepburn estava doente e precisava
de transporte para atravessar o Atlântico, emprestou-lhe seu jatinho, repleto
de flores.
UM
TRUQUE NADA MERITOCRÁTICO
Apareceu
mais um contrabando de medida provisória. Desta vez, na MP 641. Ele mexe com o
regime de cobrança de impostos ao setor de bebidas frias, que inclui cervejas,
refrigerantes e energéticos. Os repórteres Raphael Di Cunto, Marina Falcão e
Fernando Torres mostraram que o gato foi colocado na tuba de uma MP que tratava
da comercialização de energia.
Trata-se
de um setor bilionário, onde há empresários que ser- vem de modelo para
milhares de jovens. Não é razoável que permitam o encaminhamento de seus
interesses por meio de jabu- tis. No ano passado, as bebidas subiram 10,52%,
contra uma in- flação de 5,91%.
A
metodologia proposta no contrabando pode até ser a melhor, mas não é assim que
se fazem as coisas. Assim como não se deve pedir a uma pessoa que assine um
contrato depois de tomar duas dúzias de cervejas, não se deve mexer no sistema
tributário no escurinho de uma MP, aproveitando-se de um ano eleitoral, com um
Congresso em fim de feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário