segunda-feira, 14 de julho de 2014


14 de julho de 2014 | N° 17859
VERISSIMO NA COPA | L.F.VERISSIMO

A ÚLTIMA

Aúltima coluna parece título de livro sobre a Guerra Civil Espanhola, né não? Mas né não. Esta é a última de quase 50 colunas sobre uma Copa do Mundo que houve no Brasil no remoto ano (estou me imaginando no futuro para escapar da melancolia reinante) de 2014. Foi a melhor das Copas, foi a pior das Copas. Grandes jogos, como a vitória da Alemanha sobre a Argentina, ontem e uma tragédia.

Talvez este momento de depressão pós-Copa não seja o melhor para pensamentos caridosos, mas acho que eles cabem. Falou-se muito na elegância dos alemães, que depois de fazerem cinco a zero teriam decidido não nos humilhar – ou não nos humilhar ainda mais –, feito só outros dois gols quase sem querer e não atendido ao grito da plateia que pedia olé, como a turba no Coliseu de Roma incentivando os leões.

Falou-se menos no comportamento dos vencidos, que nunca apelaram para a violência ou o anti-jogo justificáveis pela frustração e o orgulho ferido e saíram de campo com dignidade, ou com a dignidade possível depois de levar sete. A atitude do Felipão, de reunir seu time no meio do campo depois do massacre e, supõe-se, tentar proteger o que lhes restava de amor próprio, também foi louvável. A própria entrevista coletiva dada por toda a comissão técnica da seleção para explicar o que houve, apesar de todas as bobagens ditas, foi corajosa.

O Felipão disse que a responsabilidade pelo desastre era dele. O que esperavam que dissesse? Que os culpados eram o Fred, o Parreira e Deus Nosso Senhor, nessa ordem? De qualquer maneira, até o óbvio soou bem em meio à melancolia generalizada. O Felipão só deveria ter completado a frase e dito: “A culpa foi minha, e eu me demito”.

Nunca concordei que o trauma da derrota para o Uruguai em 1950 mudou não só o humor dos torcedores brasileiros mas as presunções e ilusões de um país inteiro. Nessa de que uma seleção de futebol reflete uma era, um governo, a auto avaliação e o “zeitgeist” (saúde!) de uma nação há mais literatura do que verdade. Por mais atraente que seja uma sociologia do futebol que abranja a realidade extracampo, uma seleção só representa a si mesma e os erros de quem a convocou e treinou.

No caso do futebol brasileiro, o caráter dos seus dirigentes e empresários e essa coisa misteriosa que é a alternância de safras boas e más de jogadores de qualidade também contam. E, claro, nossa capacidade econômica de competir com europeus no comércio de craques. Os 7 a 1 doeram mas não vão mudar o país. Talvez mude o seu futebol.

Quanto ao jogo de ontem: o Messi fez apenas duas ou três jogadas de Messi durante toda a Copa. Mas foram jogadas decisivas, que levaram a Argentina à final. Ontem ficou todo o mundo esperando outra jogada definitiva do Messi e ela não veio. Isto também foi definitivo.

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