30
de julho de 2014 | N° 17875
FÁBIO
PRIKLADNICKI
A PERMANÊNCIA DO ÁLBUM
Em
entrevista a meu colega Gustavo Brigatti, citada em uma reportagem publicada na
semana passada, o jornalista Mick Wall sugeriu que nos encaminhamos para a
morte do disco como conceito: “O formato físico já não existe mais, não temos
lado A e lado B. Então, por que a música precisa continuar a ser vendida dessa
forma?”
Segundo
dados de 2013, os formatos físicos ainda são a maior parte da receita da indústria
fonográfica (51,4%), mas as vendas digitais subiram 4,3%, enquanto o
faturamento de serviços por assinatura, como Deezer e Spotify, aumentou 51,3%. Números
impressionantes.
Mesmo
assim, não tenho certeza sobre o fim do álbum no mundo digital. Tenho ouvido
grandes trabalhos nesse formato. Entre os estrangeiros, Reflektor (Arcade Fire),
Modern Vampires of the City (Vampire Weekend) e Everyday Robots (Damon Albarn);
entre os brasileiros, Abraçaço (Caetano Veloso), Antes que Tu Conte Outra (Apanhador
Só) e Promessa (Quinteto Canjerana, grupo de música instrumental gaúcha). Isso
sem falar nos novos CDs – sim, CDs – de música clássica que chegam à redação do
jornal.
Sabemos
que singles vendem mais do que discos. Trata-se de uma questão econômica: são
mais baratos. Um fã da estrela pop sul-coreana Psy não tem por que gastar
dinheiro em um pacote de 10 ou 12 faixas se quer escutar apenas Gangnam Style. Em
contrapartida, as vendas de vinis, mídia do álbum por excelência, aumentaram 32%
nos EUA e 101% no Reino Unido em 2013, com relação ao ano anterior.
Nos últimos
cinco anos, o mercado de LPs no Reino Unido cresceu 270%, indicando uma clara
tendência. É um fenômeno de nicho? Certamente. Mas não devemos jamais desprezá-lo.
Essa minoria aponta um fenômeno qualitativo: sim, há um público exigente que
deseja ouvir um trabalho sólido do início ao fim, assim como há pessoas que
ainda leem romances.
Aí está
a questão: seja em mídia física ou digital, o álbum e os outros tipos de pacote
seguirão coexistindo, cada um servindo a um propósito.
Os
formatos curtos (single e EP) serão usados por artistas de carreira comercial (como
Paula Fernandes) e por nomes experientes que já não têm o mesmo fôlego criativo
do passado (caso dos Rolling Stones). Já o conceito de disco seguirá como o
preferido de artistas com trabalho inovador (Arcade Fire, Damon Albarn, Beck) e
de mestres ainda em plena forma (David Bowie, Morrissey, Caetano e Chico).
Haverá
exceções? Certamente. Mas acho que é mais ou menos por aí.
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