sábado, 12 de julho de 2014


12 de julho de 2014 | N° 17857
VERISSIMO NA COPA

EU VI

É puro exibicionismo, eu sei, mas gosto de contar (e contar, e contar) que vi o Domingos da Guia jogar, o Charlie Parker tocar, o Fellini filmar e o ataque do Real Madrid com Kopa, Puskas, Di Stéfano e Gento atuar.

O Domingos da Guia, para quem nasceu ontem, era um beque, do tempo em que ainda se dizia “beque”. Tinha uma estampa majestosa. Era famoso pelos dribles que dava dentro da sua própria área, com o risco de perder a bola – o que nunca acontecia – e que ficaram conhecidos como “domingadas” e quase causavam enfartes nos torcedores do seu time.

Domingos encerrou sua carreira no Corinthians.Vi-o em ação quando o Corinthians jogou em Porto Alegre no fim dos anos 40. “Em ação” talvez não seja o termo certo. Ele já era uma relíquia, jogando de memória e movendo-se o mínimo possível. Mas a majestade ainda estava lá.

O saxofonista Charlie Parker eu vi tocar em 1954, no “Birdland” de Nova York, com o Dizzy Gillespie no trompete e acho que o Bud Powell no piano. Nós morávamos em Washington e, sempre que dava, eu pegava um ônibus e ia para Nova York, ouvir música. Até hoje não sei como me deixavam entrar, com 16 anos, no “Birdland”. Entrava e sentava numa seção só para ouvintes, sem dinheiro nem para uma Coca. Parker também já estava perto do fim, como o Domingos, só que ninguém sabia. Morreu em 1955, com 35 anos de idade.

Em 1959 eu caminhava pela noite de Roma quando dei com um set de filmagem. Identifiquei o Marcelo Mastroianni, que recebia instruções de Federico Fellini sobre como encaracolar uma mecha de cabelo, um gesto típico do próprio diretor. Depois surgiu, como uma deusa nórdica de tomara-que-caia preto, a Anita Ekberg. Acompanhei toda a cena do Marcelo e da Anitona na Fontana di Trevi, de A Doce Vida, até a madrugada.

No mesmo ano, na capital da Espanha, fui ao estádio Santiago Bernabéu ver o Real Madrid jogar. Não me lembro contra quem, nem qual foi o resultado. Mas me lembro de Puskas em grande forma e, acima de todos e de tudo, o magnífico Di Stéfano, que morreu há poucos dias. Fizeram um minuto de silêncio em honra do mestre, antes do jogo Argentina e Holanda, na quarta. Mesmo quem nunca o viu jogar ou sabia da sua existência se uniu na homenagem para dizer “Gracias, viejo”.


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