sexta-feira, 11 de julho de 2014

Jaime Cimenti

A ausência de Neymar e o resto

Perdemos. Não superamos as ausências de Neymar e Thiago Silva, não aprendemos que o importante é o conjunto e não o exército de um homem só. Ainda somos os mais criativos e vencedores,  mas a Alemanha deixou de ser  freguesa de caderno e roubou a nossa festa caríssima.

Não adianta muito a desculpa e o consolo da falta dos dois jogadores, os erros estratégicos de Felipão e a constatação de que a seleção alemã queria vingança do jogo de 2002, está em boa fase e é regular, eficiente e longeva como o relógio cuco suíço e o Restaurante Ratskeller Baumbach, onde você pode comer hoje um eisbein (joelho de porco) ou um schweineschnitzel (lombo de porco à milanesa) com a mesma qualidade com a qual degustou há 15 anos.

Você sabia que o cuco é uma ave europeia cujo canto é composto de duas notas? O que é o estudo, né?  Há quem diga que ninguém é insubstituível, e até o Pelé já foi (e bem) substituído pelo Amarildo.

Rei morto, rei posto. Uns exagerados acham que nem eles próprios ou que nem Deus é insubstituível. Por aí, seres humanos não sobrevivem sozinhos, precisam mamar um tempão, necessitam do colo da mãe e do pai e muitos permanecem cangurus, dentro das bolsas maternas e dos paitrocínios, até os 50 anos ou mais.

No fundo, a humanidade é um grande, infinito conjunto de times, nos quais ninguém joga só. Times jogam contra outros times. Cidades e países digladiam, faz parte. Mas somos anjos de uma asa só, precisamos dos outros para voar. Já imaginou Neymar sozinho, fazendo embaixadas e gols num campo deserto? Nos anos 1970, na fase de classificação para o mundial de 1974, a seleção chilena entrou em campo, no Estádio Nacional do Chile, sem adversário. Fez vários gols no arco vazio, ovacionados pelo público.

Foi a partida mais patética da história do futebol, que tomara não se repita. Enfim, estamos aí, bola para a frente, vamos disputar o terceiro lugar. Isso é o eterno viver, competir, ganhar, perder, empatar e seguir se movimentando como as ondas do mar. “Vivendo e aprendendo a jogar/ nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a jogar.”

Cantava e canta assim Elis Regina os versos de Guilherme Arantes, sempre adequados para nós, vivendo e aprendendo a jogar, nos estádios, nas cidades, nos campos e nas urnas sedentas que vem aí. Haja informação e desinformação na internet.


Haja discernimento e democracia! Depois de bem contados os votos, haja espírito coletivo e jogo de conjunto para ganharmos as copas da comida, da saúde, da educação, da segurança, da habitação, da ética e outras que merecemos levantar juntos, com ou sem Neymares.

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