Jaime
Cimenti
A ausência de Neymar e o resto
Perdemos.
Não superamos as ausências de Neymar e Thiago Silva, não aprendemos que o importante
é o conjunto e não o exército de um homem só. Ainda somos os mais criativos e
vencedores, mas a Alemanha deixou de
ser freguesa de caderno e roubou a nossa
festa caríssima.
Não
adianta muito a desculpa e o consolo da falta dos dois jogadores, os erros
estratégicos de Felipão e a constatação de que a seleção alemã queria vingança
do jogo de 2002, está em boa fase e é regular, eficiente e longeva como o relógio
cuco suíço e o Restaurante Ratskeller Baumbach, onde você pode comer hoje um
eisbein (joelho de porco) ou um schweineschnitzel (lombo de porco à milanesa) com
a mesma qualidade com a qual degustou há 15 anos.
Você
sabia que o cuco é uma ave europeia cujo canto é composto de duas notas? O que é
o estudo, né? Há quem diga que ninguém é
insubstituível, e até o Pelé já foi (e bem) substituído pelo Amarildo.
Rei
morto, rei posto. Uns exagerados acham que nem eles próprios ou que nem Deus é insubstituível.
Por aí, seres humanos não sobrevivem sozinhos, precisam mamar um tempão,
necessitam do colo da mãe e do pai e muitos permanecem cangurus, dentro das
bolsas maternas e dos paitrocínios, até os 50 anos ou mais.
No
fundo, a humanidade é um grande, infinito conjunto de times, nos quais ninguém
joga só. Times jogam contra outros times. Cidades e países digladiam, faz parte.
Mas somos anjos de uma asa só, precisamos dos outros para voar. Já imaginou
Neymar sozinho, fazendo embaixadas e gols num campo deserto? Nos anos 1970, na
fase de classificação para o mundial de 1974,
a seleção chilena entrou em campo, no Estádio Nacional
do Chile, sem adversário. Fez vários gols no arco vazio, ovacionados pelo público.
Foi
a partida mais patética da história do futebol, que tomara não se repita. Enfim,
estamos aí, bola para a frente, vamos disputar o terceiro lugar. Isso é o
eterno viver, competir, ganhar, perder, empatar e seguir se movimentando como
as ondas do mar. “Vivendo e aprendendo a jogar/ nem sempre ganhando/nem sempre
perdendo/mas aprendendo a jogar.”
Cantava
e canta assim Elis Regina os versos de Guilherme Arantes, sempre adequados para
nós, vivendo e aprendendo a jogar, nos estádios, nas cidades, nos campos e nas
urnas sedentas que vem aí. Haja informação e desinformação na internet.
Haja
discernimento e democracia! Depois de bem contados os votos, haja espírito
coletivo e jogo de conjunto para ganharmos as copas da comida, da saúde, da
educação, da segurança, da habitação, da ética e outras que merecemos levantar
juntos, com ou sem Neymares.
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