22
de julho de 2014 | N° 17867
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
EPÍGRAFES
Depois
de longo e tenebroso inverno – embora ainda estejamos no inverno – volto a
escrever sobre arte. A minha praia é o teatro – todo mundo sabe disso –, mas às
vezes gosto de arriscar alguns palpites nas outras áreas, sem que, com isso,
aspire mudar o mundo.
Na
coluna de hoje, muito do que vai aí embaixo se aplica tanto à arte do drama
quanto à música, às artes plásticas, à literatura, à dança e ao cinema. São
frases – epígrafes – que costumo colecionar para me inspirar, mas,
principalmente, quando ainda dava aulas, para provocar meus alunos. Começo
citando uma de Galileu Galilei: “Toda concepção nasce da análise”. Considerando
a pós-modernidade de hoje, em que tudo nasce do nada, a observação do grande
astrônomo é fundamental.
Outra
frase que mexe com a minha cabeça: “Nós não somos livres. E o céu ainda pode
cair sobre nossas cabeças. O teatro foi criado, antes de tudo, para nos revelar
essas verdades”. Não é um primor de sutileza? Seu autor é Antonin Artaud.
Afinal, todas as artes foram criadas para nos livrar de alguma coisa, da
mediocridade, da mesmice, dos dogmas religiosos, do medo e da culpa. Ao lado da
de Artaud, acrescento esta de George Bracque, que citei numa outra coluna e
provocou alguns simpáticos debates: “A arte perturba; a ciência tranquiliza”.
Mais
algumas que revelam outras e muitas verdades: “Existem três verdades: a minha
verdade, a tua verdade e a verdade” (Peter Brook); “A vida bate e estraçalha a
alma. A arte nos lembra que você tem uma” (Stella Adler); “O drama, como a
sinfonia, não ensina ou prova nada” (John M. Synge); “O poeta tem a terrível
tarefa de mostrar o que não pode e não deve ser mostrado” (Ariane Mnouchkine);
“Se
eu não pudesse escrever, nos momentos de euforia seria guerrilheiro, e nos de
passividade, mágico. “Ser poeta inclui as duas coisas” (Joan Brossa); “A
digestão é a ação mais excitante de um solitário” (Gonçalo M. Tavares); “É
possível falhar de muitas formas, mas ter sucesso só é possível de uma única
forma” (Aristóteles).
Tem
mais três que deixei para o fim porque são as minhas preferidas. Uma é do poeta
Rainer Maria Rylke, que diz: “É demais ter dois olhos”. E a outra é do ator
Ralph Richardson: “Representar é a arte de evitar que um grupo de pessoas
permaneça tossindo”. A terceira é do poeta e crítico Ferreira Gullar: “A arte
existe porque a vida não basta”. Precisa mais?
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