20
de julho de 2014 | N° 17865
MARTHA
MEDEIROS
Você maior
As
redes sociais alimentam, mas não são as únicas responsáveis pela egolatria que
tomou conta do mundo. Vivendo numa bolha chamada sociedade de consumo, cada um
de nós passou a ser encarado como um produto e, como tal, precisa se vender.
Para
se colocar bem no mercado do amor e no mercado de trabalho, tornou-se obrigatório
apresentar um perfil, e então tratamos de falar muito sobre nós, sobre nossos
atributos e tudo o que possa fazer a gente avançar em relação à concorrência,
que não é pequena. Somos os publicitários de nós mesmos, uns mais discretos,
outros mais exibidos, mas todos procurando encantar o próximo, que propaganda
nada mais é do que isso: a arte de seduzir.
Contraditoriamente,
quando se torna necessário falarmos não de nossos atributos, mas de nossas
dores, de nossas inseguranças e de nossos defeitos, fechamos a boca. Mesmo os
que estão bem perto, aqueles que nos são íntimos, não escutam a nossa voz. Calamos
por temer um julgamento sumário. Produtos precisam ser eficientes, não podem
ter falhas.
A
boa notícia é que tudo isso é um absurdo. Não somos um produto. Não precisamos
de slogan, embalagem, jingle. Estamos aqui para conviver, e não para sermos
consumidos. E, se quisermos que realmente nos conheçam, o ideal seria parar de
nos anunciarmos como o último copo d’água do deserto.
O
documentário Eu Maior, um dos trabalhos mais tocantes a que assisti nos últimos
tempos, traz o depoimento de filósofos, artistas, cientistas e ambientalistas
sobre quem verdadeiramente somos e como devemos nos relacionar com o universo. Entre
várias colocações ponderadas, teve uma de Marina Silva que tomei como uma lição
de comportamento: “Você descobre a qualidade de uma pessoa não quando ela fala
de si, mas quando ela fala dos outros”.
Ou
seja, o que revela sua verdadeira natureza são os comentários venenosos que
costuma distribuir ou os elogios que faz sobre amigos e desconhecidos. São as
fofocas que oculta para não menosprezar seus semelhantes ou que espalha por aí,
acrescentando uma maldadezinha extra. Você é avaliado de forma mais precisa
através da sua capacidade de enaltecer o positivo que há ao seu redor ou de
propagar o negativismo que sobressai em tudo o que vê.
Você
demonstra que é uma pessoa maior – ou menor – de acordo com sua necessidade de
diminuir ou de valorizar aqueles que o rodeiam, de acordo com um olhar que
deveria ser justo, mas que quase sempre é competitivo. É através das suas
palavras amorosas ou das suas declarações injuriantes que os outros saberão
exatamente quem é você – pouco importando o que você diga sobre si mesmo.
Sobre
você mesmo, deixe que falemos nós.
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