20
de julho de 2014 | N° 17865
L. F. VERISSIMO
Mas...
Todos
nós devemos ter lado, e deixar claras nossas convicções, nossas certezas e até
nossas birras. Mas há questões em que a única posição sensata é em cima do
proverbial muro, e sobre as quais você não tem opinião.
Ou
porque nunca parou para pensar no assunto, ou porque o assunto não depende da
sua definição – quatro-quatro-dois, três-cinco-dois ou quatro-três-três, que
diferença faz sua preferência se não é você quem escala o time? –, ou porque o
assunto não tem lado para ser escolhido. Ou pior: tem tantos lados que qualquer
um que você escolha será uma injustiça com os outros.
Os
assuntos sobre os quais é difícil ter uma opinião firme vão do corriqueiro –
abotoar a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima, deixar ou não deixar
a gema do ovo para o fim, Patricia Pillar ou Patrícia Poeta? – às últimas
dúvidas sobre o Universo e a vida, passando pela política e seus alçapões. Por
exemplo: religião. Você não acredita em Deus, acha que todas as religiões são
resquícios infantis de superstições pré-históricas que não resistem a dois
minutos de argumentação racional, quando não são vigarices abertas, mas...
E se
o engodo religioso for necessário para nos manter a mente sana? E se catequizar
contra a religião for roubar do crente a sua única proteção contra a angústia?
As religiões prometem derrotar o inimigo comum de todos, até dos ateus
convictos: a morte. A grande mensagem de quase todas as narrativas religiosas é
a da ressurreição, da vitória contra a morte, que independe da existência ou
não de um céu e um deus. Nisso, estamos com elas, literalmente até o fim. Podem
nos chamar de ateus carolas.
Também
é difícil ter opinião firme sobre o conflito eterno entre judeus e palestinos
no Oriente Médio. Simpatizamos com os judeus e com a luta de Israel para
prevalecer num meio que nega a sua existência. Um país tem todo o direito de
usar toda a sua força para simplesmente existir. Mas... Também há o lado dos
palestinos e seus direitos negados, e sua pretensão de também ser um Estado.
E há
o direito mais importante de todos, que é o de cidadãos de toda a região
deflagrada estarem livres de morrer só por estarem no lugar errado, na hora
errada. Qual é o lado sensato para se estar nessa questão? Bem-vindo ao muro.
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