12
de julho de 2014 | N° 17857
PAULO
SANT’ANA
Bebê no plástico
Uma
patrulha do Exército vinha caminhando ontem por uma rua central de Santo Ângelo
e encontrou um bebê de dois dias agasalhado num saco plástico.
Imediatamente,
o bebê foi recolhido a um hospital, e seu estado era bom.
O
que levou a mãe do bebê a jogá-lo na calçada? Seria a vergonha de ter ficado grávida
ou ela calculava que não teria como manter seu rebento?
O
que passava pela mente da mãe do bebê quando decidiu jogá-lo na calçada da rua?
Algo
de muito grave aconteceu com essa mãe ou com os pensamentos que povoaram sua
cabeça. Desfazer-se de uma criatura viva, fruto de seu sangue e de seu ventre, é
um gesto tresloucado, quase terminal, pior do que um suicídio.
Não
pode ser má essa mulher que abandonou seu bebê a sua própria sorte. Vou
explicar por que não pode ser má: teve o cuidado de envolver em agasalhos o
fruto abandonado de seu ventre.
Se
fosse má, não agasalharia o seu bebê.
Outra
coisa que me passa pela cabeça ao focar minha ideia nesse fato: certamente,
essa mulher, que poderia ser considerada desnaturada por ter abandonado o filho
na rua, tinha na cabeça que fosse quem encontrasse seu bebê, haveria de
reservar para seu filho um destino melhor do que ele teria se ela o continuasse
criando.
Eu
imagino essa criança daqui a 18 anos, perguntando aos outros quem era sua mãe. Será
que terão a coragem de dizer a ela que foi encontrada abandonada num calçada e
que não sabem quem é sua mãe?
Torço
para que alguém acolha esse bebê e o crie como seu filho natural. Torço para
que esse bebê torne-se uma criança, um rapaz ou uma moça, cresça, torne-se útil
e então forme uma família que o destino negou a ele.
Torço,
torço por esse bebê, mas imagino que não estou sendo sincero. Se eu estivesse
sendo sincero, iria até Santo Ângelo e adotaria esse bebê, e não ficaria
escrevendo fiado sobre ele. Consolo-me com a ideia-desculpa de que, fosse eu
mais moço e não faltasse pouco para eu morrer, sem dúvida, adotaria esse bebê.
E
rezo por ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário