sábado, 26 de julho de 2014


27 de julho de 2014 | N° 17872
PAULO FAGUNDES VISENTINI

O BRICS e seus mitos

A sexta cúpula do agrupamento BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foneticamente “tijolos”, do inglês bricks), realizada este ano em Fortaleza, atraiu a atenção com propostas inovadoras, acompanhadas de ufanismo, críticas ou ceticismo. Desde que o acrônimo foi criado em 2001 por Jim O’Neill, da consultoria Goldman Sachs de Nova Iorque, o exercício de simulação sobre o rápido crescimento das grandes economias emergentes se tornou uma publicidade gratuita para os referidos países.

Mas a sigla somente foi assumida por China, Rússia, Brasil e Índia em 2009, como resposta à crise financeira de 2008-2009, iniciada nos Estados Unidos e que atingiu a Zona do Euro. Logo o acrônimo passou a ser definido em torno de mitos, de fora para dentro: o BRICS é 1) o bloco econômico dos emergentes, novo centro da economia mundial; 2) uma aliança de regimes autoritários ou esquerdistas contra as democracias do Atlântico Norte; 3) um grupo dominado pela China para obter o domínio mundial.

Para outros, o BRICS: 1) não é sólido porque seus membros são muito diferentes; 2) tem tido desempenho declinante pela taxa de crescimento menor; 3) propõe instituições (Banco de Desenvolvimento e Fundo de Reserva) para competir com o FMI e o Banco Mundial; 4) não é representativo dos emergentes porque deixa de fora outros países importantes.

São mitos que necessitam ser esclarecidos. Os integrantes dos BRICS têm sólidas relações econômicas com os Estados Unidos e Europa e muitos interesses em comum, e não buscam qualquer ruptura profunda com o atual sistema internacional. Trata-se de uma coalizão ad hoc (para uma tarefa específica) que busca responder aos riscos da crise financeira e econômica mundial e nunca pretendeu ser um bloco econômico.

Os membros têm, como emergentes, uma posição semelhante na estrutura de poder político e econômico. Inclusive, houve uma mudança de posição, pois hoje são eles que lutam contra o protecionismo comercial (que começa a ser praticado pelos euro-americanos) e defendem as negociações multilaterais. Não foi apenas seu crescimento que reduziu o ritmo, mas o da economia mundial como um todo, e eles ainda estão muito à frente dos EUA e da Europa (menos endividados e com mais reservas). E continuam puxando a economia internacional, particularmente a China.

Por fim, a China, espertamente, não deseja qualquer posição de liderança, mas atuar em conjunto com aliados visando reformas no sistema financeiro e comercial (sempre postergadas) para manter o crescimento e evitar um colapso mundial. Da mesma forma, atua em conjunto na ONU para afastar o perigo de que conflitos localizados se transformem em guerras maiores.

Certamente, quando o fantasma da instabilidade econômica e política for afastado, as diferenças e rivalidades entre eles voltarão a se manifestar, e o grupo perderá sua razão de ser. Como todo tijolo, pode se esfarelar.

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