08 de fevereiro de 2014
| N° 17698
PAULO SANT’ANA
Importante carta
Recebo de um cobrador de ônibus
da Carris, que está em greve, um interessante e-mail em que faz defesa das
acusações que esta coluna tem feito contra os grevistas. Está assinado. Ei-lo:
“Amigo Pablo, sou fiel leitor de
sua coluna, daqueles que leem ZH de trás pra frente. Talvez eu passe das 10
linhas, mas gostaria que o amigo lesse até o final. Em janeiro de 1999, entrei
na Carris através de concurso público, assumindo a função de cobrador de
ônibus, naquela época, eu bem lembro, tinha assinatura da revista Veja, ZH
completa e Correio do Povo, além de um plano de saúde particular, sem falar nos
seguros de vida e de morte etc. e tal. Passados uns dois ou três anos, tive que
cancelar todo esse aparato, com exceção de ZH, que na época me ofertaram a
light, da qual sou assinante até hoje. Como o senhor percebeu, pois é uma
pessoa inteligente, o meu salário misteriosamente não estava suprindo minhas
necessidades intelectuais. Passaram-se os anos e as coisas só pioraram.
Nós, rodoviários gaúchos,
acordamos, unidos, derrubamos um presidente corrupto e ladrão do nosso
sindicato. Pior, ele é político influente na cidade de Alvorada. O senhor,
sendo uma pessoa bem informada, sabe que nosso salário, dos rodoviários, vem
diminuindo de uma maneira assustadora. O nosso estresse no trânsito complicado
de POA e a falta de educação das pessoas estão nos deixando à beira da morte.
Pergunte para sua colega Cristina Ranzolin, pois ela viveu a experiência de se
passar por cobradora e, pelo que sabemos, não foi nada agradável.
Sugiro que o
senhor use um disfarce e faça uma tabela completa, tendo três horas de
intervalo. Tenho certeza de que o senhor irá mudar de opinião em relação a nós.
Não é à toa que muitos de nós fazem concurso para trabalhar na EPTC. Lá, sim,
existe qualidade de vida, seis horas corridas e mais um monte de vantagens,
informe-se.
Agora, eu peço desculpa, mas
tenho que lhe falar: é muito fácil, e até patético, estar sentado numa sala
confortável com ar condicionado e com toda a qualidade de vida possível dentro de
seu trabalho, e ficar criticando e metendo o pau em nossa categoria. O senhor
está nos ofendendo, pois nós também somos parte da sociedade, também estamos
pagando o preço pela greve. Vou dar-lhe um exemplo de hoje: tinha uma consulta
médica agendada há uns 20 dias no centro de POA, eu tinha que ir e fui. Peguei
o carro emprestado de minha mãe, gastei R$ 17 de estacionamento e R$ 20 de
gasolina, acha que fiquei feliz??? Claro que não. Como eu sou parte dessa
sociedade, eu também pago pela greve. Meus colegas que não têm carro e dinheiro
para se deslocar até as garagens para montar os piquetes também pagam pela
greve.
Agora, uma pessoa intelectual
como o senhor, vir dizer que fizemos essa greve nesta época para veranear,
beira o absurdo. O senhor tinha que ser mais responsável, amigo. Se informe
melhor, não se deixe iludir. Nós somos gaúchos, temos de mudar o que está
errado, é justo os empresários do transporte público enriquecerem de uma
maneira que nos torna escravos deles? Amigo, tem dono de empresa que tem frota
de táxi, de lotação, de empresa de turismo e até de aviões particulares, ou o
senhor não sabe disso?
Mete o pau neles, não em nós. O
que está errado é o sistema. O senhor consegue mudá-lo? Nós estamos tentando.
Por favor, nos ajude e não nos atrapalhe. Não esqueça, nós somos modelo desta
terra. Procure o Alceu Weber, líder do MIR – Movimento Independente dos
Rodoviários, tenho certeza de que o senhor irá mudar de opinião. Abraço. Sou
cobrador de ônibus e tradicionalista, meu nome é João Carlos Vargas do
Nascimento e meu e-mail é vargolino@hotmail.com”.
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