17 de fevereiro de 2014
| N° 17707
L.F. VERISSIMO
Shirleys
Houve uma época em que os pais
davam o nome de Shirley às filhas na esperança de que fossem adoráveis como a
Shirley do cinema. E o mundo se encheu de Shirleys. Poucas corresponderam ao
que, implicitamente, se esperava delas. As outras só foram Shirleys no nome.
Mas durante um breve instante de suas infâncias todas foram Shirleys autênticas
em potencial, projetos de Shirley que só porque a vida é injusta não deram
certo.
O que restou da desilusão foi uma
geração inteira de Shirleys desperdiçada, como uma plantação frustrada em que
nada floresceu. A própria Shirley do cinema só foi a Shirley dos sonhos por um
instante fugidio. Depois cresceu, ficou adulta, foi infeliz no amor, virou
política e, pior, republicana, e só o que ficou do seu instante de Shirley foram
as covinhas.
“TONIGHT”
Só falo no assunto porque mexeu
com meu vespeiro particular de memórias, pois não tem nenhuma relação com nossa
realidade, com o beijo gay ou com os destinos da nação. Nós estávamos nos
Estados Unidos quando começou na TV o programa Tonight, o protótipo de todos os
talk-shows de fim de noite que existem hoje. Isso há, meu Deus, 60 anos!
O show era feito em Nova York e o
Jô Soares deles, na época, era o Steve Allen, que tocava piano, gostava de
jazz, era um bom entrevistador e, com o seu “cool”, como dizem os franceses, e
seu humor inteligente, personificava, pra mim, tudo o que Nova York tinha de
mais nova-iorquino.
Os cantores do programa eram o
Steve Lawrence e a Eydie Gorme, casados, o Andy Williams e outra cantora cujo
nome não encontro no vespeiro. A segunda fase do Tonight foi com o Jack Paar,
que provocou uma grande crise quando, em protesto por uma censura que sofreu,
abandonou o programa em plena transmissão – mas depois voltou. Em seguida veio
o Johnny Carson, que ficou anos, quando o programa já era feito na Califórnia.
E agora chegou a notícia de que
Jay Leno, que substituiu Carson, também vai se aposentar. E, mais importante,
que o Tonight vai voltar para sua origem, Nova York. Infelizmente, não posso
voltar para os meus 17 anos. E a gente nunca volta para a mesma Nova York.
PAPO VOVÔ
O pai da nossa neta Lucinda, de
cinco anos, é de Yorkshire, e ela só fala inglês com ele. E desenvolveu um
vocabulário em inglês surpreendente, que muitas vezes não sabemos de onde vem.
No outro dia a mãe dela a viu sentada na privada, pensativa, e perguntou se era
xixi ou cocô. E ela: “I’m evaluating”. Ainda não tinha avaliado o que iria
fazer.
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