09 de fevereiro de 2014
| N° 17699 FABRÍCIO CARPINEJAR
carpinejar@terra.com.br
Liga da justiça
Os homens só confessam seus problemas aos amigos
quando a casa caiu, quando o casamento desmoronou, quando o fim está
sacramentado.
Nada mais pode ser feito, estão
oficializando a notícia.
Os amigos são solicitados para
socorrer a fossa, não como prevenção da dor; são requisitados para beber as
mágoas: dividir o uísque da solidão, a cerveja do desamparo, o conhaque do
ressentimento.
Muito distinto do ritmo feminino,
que presta uma consultoria permanente às amigas durante os atritos do
casamento.
O homem procura seu amigo para
esquecer um amor rompido, a mulher procura sua amiga para salvar o amor em
apuros.
Sim, por que você acha que sua
mulher discute tão bem, tão senhora de si?
Ela está preparada para a DR,
recapitulou o que precisava dizer e como dizer com suas amigas, levantou os
pontos negativos e os positivos das exigências, assimilou o contraditório com a
versão e experiência de suas confidentes.
Na refrega sentimental, ela
antecipa suas respostas, não é verdade?
Ela desarma suas opiniões, não é
verdade?
Não fica impressionado com o
poder e a velocidade do raciocínio dela, o quanto é adulta e equilibrada,
enquanto você, do outro lado, espuma raiva, infantilidade e insegurança?
É que ela teve a humildade de
pedir opinião para suas colegas, com o objetivo de evitar injustiças. Formou um
ibope das diferenças e das dificuldades e carrega as informações privilegiadas
para dentro de sua casa.
Não é curioso que antes de uma
conversa séria sua esposa ou namorada tenha saído com as melhores amigas na
noite anterior?
Elas treinaram o discurso do qual
seria vítima. Vírgula por vírgula. Ponto por ponto.
Sua cara-metade chega para o papo
com uma oratória de Angela Merkel, uma firmeza de Oprah. É impossível contê-la.
Compreenda que uma mulher jamais
toma alguma decisão sozinha. Ela é uma multidão. Ela é um conselho de leitor.
Ela é uma reunião ministerial.
São três ou quatro mentalidades
pensando ao mesmo tempo em sua cabeça. É como jogar xadrez com um computador.
Não tem chance. O que ela fala é absolutamente lindo, honesto, real, comovente,
por várias perspectivas. O que resta fazer é pedir desculpa, mesmo que
desprovido de culpa.
Já fiquei abobado em várias DRs,
exclamando para mim mesmo: – Como ela domina nosso relacionamento, como tem
consciência de tudo!
Minha vontade era cumprimentá-la,
elogiar o desempenho, assim como um time juvenil leva goleada de uma equipe
profissional e ainda quer autógrafos ao final.
Hoje absorvi a lição. Nunca mais
o amadorismo. Não brigo com a minha esposa sem antes consultar meus comparsas
Éverton e José Klein. Formamos a Liga de Justiça. Meus improvisos são bem
ensaiados.
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