12 de fevereiro de 2014
| N° 17702
MARCELO PERRONE
Opinião e pizza
Entre a acusação da filha adotiva
de que foi abusada por Woody Allen quando ela era criança e a recente
manifestação dele garantindo que não abusou, este drama se mostra bastante
complexo e, presume-se, doloroso para ser tratado fora dos círculos familiar,
jurídico e clínico.
Dylan Farrow, hoje com 28 anos,
optou por reacender publicamente o caso – em sua época discutido e analisado
nas instâncias legais cabíveis –, o que lhe é de direito. Mas aqueles que veem
as redes sociais como uma fileira de postes a serem demarcados com opinião,
sobre esse e qualquer outro assunto, prontamente, e com a incontinência
característica, foram ao tribunal virtual para, em processo sumário, julgar e
condenar.
Allen é um velho safado
finalmente desmascarado, seus filmes devem ser agora vistos, se vistos, com o
prazer embebido na culpa, já que é preciso separar o artista bom do homem mau.
Allen é vítima da ex-mulher maluca que fez a lavagem cerebral da criança agora
adulta para se vingar da sacanagem que ele fez ao trocá-la por uma outra filha
adotiva.
Essas foram, em resumo, as duas
sentenças proferidas e compartilhadas em meio a arrazoados irrelevantes e
reveladores não apenas da superficialidade de quem vê a vida em preto ou branco
e sofre de coceira patológica nos dedos para dar pitaco, mas também da total
ignorância sobre o episódio.
A peculiaridade daquele arranjo
familiar que circundava o relacionamento de Woody Allen e Mia Farrow torna
bastante nebulosa a visão para quem está de fora. Em que pese contra a imagem
do cineasta sua controversa união com a filha adotiva de Mia e seu parceiro
anterior, isso não o torna potencial culpado de um crime abominável. Também sua
acusadora não deve ser desqualificada, posto que tende a ser imenso o custo
emocional de expor publicamente um trauma desses, seja ele real ou imaginário.
Assim, vale lembrar aos que não
se aguentam diante de uma fresta para “fazer uma colocação”, meter o bedelho em
assuntos que desconhecem ou não lhe dizem respeito, a máxima de outro
comediante americano, Will Ferrell: “A diferença entre a pizza e a sua opinião
é que eu pedi a pizza”.
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