Mauricio
Stycer
'Marginalzinho amarrado'
SBT também é responsável pelo
comentário em apoio ao grupo que amarrou um jovem nu ao poste
Por ter sido um dos primeiros a
tratar, em meu blog no UOL, do comentário de Rachel Sheherazade sobre o
"marginalzinho amarrado ao poste" por um grupo de
"vingadores", acabei ouvindo uma crítica recorrente.
Fui "acusado", por
diversos leitores, de ter dado espaço e relevância a uma personagem de menor
importância. O raciocínio, aparentemente lógico, leva em conta os baixos
índices de audiência do telejornal que ela apresenta e a relativa relevância do
jornalismo da emissora de Silvio Santos.
Mas esta crítica ignora o aspecto,
na minha opinião, mais grave do episódio. Já no título da nota em que falei do
assunto ("SBT divulga mensagem de apoio a grupo que amarrou homem nu em
poste") procurei sublinhar o que entendi como o tema principal.
Sheherazade difundiu sua mensagem
("Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até
compreensível") numa rede de TV aberta, uma concessão pública, sem que a
emissora tenha oferecido qualquer contraponto a ela.
É uma opinião dela? Sim. Ela é a
âncora do telejornal? Sim. Ela pode falar o que quiser? Tudo que o SBT
considerar aceitável.
Ao justificar uma ação criminosa,
do seu púlpito, a apresentadora contou com o endosso (silencioso) da emissora
que a colocou no lugar em que está.
Lamento se, ao tentar chamar a atenção
sobre a responsabilidade (ou irresponsabilidade) do SBT no episódio, eu tenha
ajudado uma figura que muitos consideram não merecer os holofotes. Faz parte.
Woody Allen e BBB'
Muita gente torce o nariz para
programas como o "Big Brother Brasil" sem entender, de fato, qual é o
fascínio que ele exerce. A recente discussão pública entre Mia e Dylan Farrow,
de um lado, e Woody Allen e Moses Farrow, do outro, pode ajudar a explicar.
A chance de espiar o outro, o
voyeurismo, é um dos atrativos do "BBB", mas não o principal. O que
ele oferece de "melhor" é a possibilidade de ser juiz da moral e do
caráter alheio. Da poltrona, assistindo às conversas, às trapaças e aos
conluios entre os participantes, vamos formando opiniões "sólidas"
sobre pessoas que não conhecemos.
Para quem assiste ao programa, a
grande questão, no fundo, é conseguir determinar quem está sendo
"falso" e quem é "verdadeiro" dentro da casa onde se passa
o programa. "A máscara caiu", repete-se sempre que algum comentário
ou gesto permite inferir que algum participante foi "fake".
Ao tornarem público um drama de
natureza privada, ainda que com alcance policial e jurídico, os personagens do
caso Farrow-Allen convidaram os espectadores a participar do julgamento.
Iniciada no Twitter, no dia do Globo de Ouro, e depois levada às páginas do
"New York Times", a lavagem de roupa suja teve audiência mundial.
Assim como no "BBB", o
que mobilizou muita gente nas redes sociais e nos comentários de notícias não
foi o prazer de ver figuras famosas brigando em público, mas a chance de julgar
os envolvidos.
A facilidade com que muita gente
chegou a um veredicto, condenando ou inocentando o cineasta da acusação de ter
molestado uma menina de sete anos, lembra muito a decisão de quem vota num
paredão do "BBB".
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