13 de fevereiro de 2014
| N° 17703
PAULO SANT’ANA
Tempos do Flit e do Detefon
Leio que só uma grande rede de
eletrodomésticos entre nós vendeu, em apenas 15 dias, 80 mil ventiladores. Que
façanha! E ajudada pelo calor intenso que faz, que era no meu tempo chamado de
canícula.
Eu sou do tempo em que o
ventilador tinha duas grandes utilidades: refrescar o ambiente e espantar as
moscas e os mosquitos.
Porque no meu tempo era
impossível dormir com o calor de janelas fechadas. Não havia ar-condicionado,
então se abriam as janelas para refrescar e por elas entrava uma praga que
derrubou e erigiu vários secretários da Saúde entre nós: os mosquitos.
Tanto que consta historicamente
que quem acabou com os mosquitos no RS foi o saudoso Lamaison Porto, como
secretário da Saúde de Leonel Brizola.
Lembro-me de que, quando tinha 18
anos, em 1957, usava de um estratagema para me livrar dos mosquitos durante o
sono: ficava nu em cima do lençol e ensaboava todo o meu corpo: os mosquitos
aterrissavam na minha pele e ficavam grudados no sabonete. Que coisa, até onde
chegávamos para sobreviver!
Os mosquitos em Porto Alegre
celebrizaram um profissional, o Jotabê, que tinha o nome de João Bergman,
notável colunista da então Folha da Tarde.
Ele usava o nome científico do
mosquito para referir-se àquele inseto em sua crônicas: culex. João Bergman
encantou várias gerações de leitores com seu fino humor.
Interessante é que Jotabê era tão
fielmente atual em seus escritos, que esses dias fui ler uma coletânea sua e
não pude achar nenhuma graça, seus escritos não eram atemporais, só tinham
graça quando fossem lidos no dia de sua publicação, depois perdiam o sentido.
Mas foi um magistral cronista.
Podia ser canonizado como um cronista da sua época.
Pois bem, nós somos felizes hoje,
não temos quase mosquitos e moscas para nos infernizarem.
Mas, no meu tempo, as farmácias
enriqueciam com os mata-mosquitos e mata-moscas que vendiam. O mais célebre
deles foi o Ipril, vendido, como os outros, em espirais que eram acesas na
ponta e ficavam fumegando a noite inteira, espantando os mosquitos.
Havia um desses inseticidas que
chegava a gabar-se de que não matava os mosquitos, mas os tonteava,
espantando-os para longe.
Eram tão imensas e intensas as
nuvens de mosquitos que atacavam as cidades, que os brasileiros inventaram um
artefato eficientíssimo: os mosquiteiros, redes de filó que eram estendidas
sobre a cama das pessoas e que não permitiam a passagem por elas dos mosquitos.
Também não matavam os mosquitos,
mas os mantinham longe.
Pois não é que me lembrei agora
de um outro famoso inseticida daquele tempo: o Flit, que deu lugar depois ao
Detefon, que eram usados em bombas que espargiam o seu líquido sobre as peças
das casas, matando os mosquitos. O Detefon, em sua propaganda, dizia: “Não
mata, mas tonteia”.
Um verdadeiro inferno foram os
mosquitos antigamente, os homens usavam de uma engenharia potente e variada
para combatê-los.
Você, leitor ou leitora amiga,
considere-se feliz somente por não ter existido no tempo dos mosquitos. Eu sei
bem o que sofremos com eles...
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