09 de fevereiro de 2014
| N° 17699
O CÓDIGO DAVID | DAVID
COIMBRA
VOCÊ SABE O QUE SUA MULHER
FEZ?
Entre as minhas ignorâncias
várias estava a de não saber da existência dos beliebers. Descobri isso indo
para os Estados Unidos, mas esse... movimento?... é movimento? Seja. Esse
movimento existe no Brasil também. Existe em grande parte do mundo, vasto e estranho
mundo.
Beliebers. Uma contração em
inglês de “eu acredito em Justin Bieber”. Como quem acredita em Jesus, por
exemplo. Isso significa que Justin Bieber tem seguidores. Ou apóstolos. Algo
assim.
Nunca pensei que tal fenômeno
fosse possível. Justin Bieber sendo um guru, um farol de sabedoria, um pastor a
guiar seu rebanho que o segue balindo, fiel, amoroso, agradecido.
Entendo a devoção das pessoas por
músicos. A música toca direto nos sentimentos, e é difícil quem não se deixe
enlevar por uma melodia que desperte nostalgia, tristeza, excitação ou euforia.
Mesmo os mais inteligentes se comovem com a música e passam a amar os músicos
sem que eles precisem falar, só cantar ou tocar. Nietzsche era uma espécie de
devoto de Wagner. Conheceu-o, tornou-se meio que um discípulo dele, mas, depois
da convivência mais próxima e da decepção, acabaram rompendo, e Nietz passou o
resto da vida falando e escrevendo mal do seu antigo ídolo.
Peninha, o Eduardo Bueno, ama Bob
Dylan. Mas AMA, de suspirar com o olhar perdido no vento. O Peninha é um homem
de paixões, vide seu afeto explosivo pelo Grêmio.
E há mulheres maduras que se
rasgam pelo Rei, ou pelo Chico, ou por Beatles e Rolling Stones.
Certo.
Mas Justin Bieber?
Como a mulher leviana, Justin
Bieber não parece merecedor de amores imortais. No entanto, há quem o ame, que
faça sacrifícios por ele e que, oh, tempora!, oh, mores!, mate-se por ele.
Sério: pessoas se suicidaram por causa de dissabores vividos por Bieber, como
sua recente prisão por excesso de velocidade.
Agora reflita sobre essa
informação, perplexo leitor: alguns jovens se suicidaram, ou tentaram o
suicídio, motivados por vicissitudes enfrentadas por Justin Bieber. Nos Estados
Unidos existe até um serviço assistencial que tenta convencer as pessoas a não
se matarem por causa de Justin Bieber.
O que deve ser tarefa muitíssimo
pedregosa. Afinal, quem tenta se matar por causa do Justin Bieber deve ser
alguém de convicção sólida. Não consigo nem imaginar o que eu argumentaria para
convencer essa pessoa a não se matar por causa do Justin Bieber. É provável até
que acontecesse o contrário: ela me provaria que estava certa e eu cederia:
– Tá bem. Morra por causa do
Justin Bieber.
É lógico que você chegou à mesma
conclusão que eu: o mundo se divide em pessoas que tentam o suicídio por causa
de Justin Bieber e pessoas que não tentam o suicídio por causa de Justin
Bieber. Isso é óbvio.
Digamos que você esteja no
segundo grupo. E que daqui há 10 ou 20 anos você conheça um belieber
sobrevivente. Ou seja: alguém que tentou se matar por Justin Bieber e não
conseguiu, ou foi convencido a não fazê-lo. Esse belieber suicida vivo pode se
tornar seu vizinho, ou seu chefe, ou seu sogro, ou sua namorada.
Pode influenciar sua vida, pode
modificá-la, pode ser decisivo para você, e talvez você nunca descubra que
aquela pessoa é um belieber suicida vivo. Você já pensou nisso? Já pensou no
tanto que não sabe sobre a pessoa que está ao seu lado? Já pensou que existem
informações fulcrais sobre, digamos, o seu cônjuge, que ele jamais deixaria que
vazassem, sobretudo para você?
Olhe para a mulher que está agora
ao seu lado, ronronando. Você sabe tudo o que é importante sobre ela? Tem
certeza? Como ela se comportaria num momento de crise? Pense bem.
É por isso que tanta gente se
surpreende ao fim de um relacionamento. Antes é tudo tão belo, tão... lógico.
Mas, de repente, aquela mulher que era toda paixão se transforma numa estranha,
em alguém que você não reconhece, às vezes fria e indiferente, às vezes
perigosamente hostil. Aí vem um amigo e finalmente revela:
– Não queria te dizer antes, mas
ela é uma ex-belieber.
Eis! Eis! Por que ninguém contou
isso antes? É assim, quem mais tem interesse é sempre o último a saber.
A cítara
A música acalma os loucos e as
feras. Mesmo. Meu xará de 30 séculos atrás, o rei David, antes de ser rei,
quando menino, 17 anos de idade, ele servia ao primeiro rei de Israel, Saul.
Este Saul, no começo ele era um monarca justo, mas aos poucos foi ficando
neurótico, como sói acontecer com monarcas. Era tomado por acessos de fúria que
só se aplacavam quando ouvia a suave melodia da cítara. Bem. David era exímio
tocador de cítara, e foi convocado para acalmar o rei. E conseguia, até que se
meteu a matar filisteus.
Então, as mulheres, nas ruas da
cidade, cantavam: “Saul matou mil, mas David matou dez mil!” Assim como a
música da cítara acalmava o rei, a musiquinha das ruas o irritava. Por duas
vezes, Saul atirou uma lança contra David, quando David tocava para ele. David
esquivou-se das lanças, acabou fugindo, rebelando-se e tornando-se ele próprio
rei.
Esse foi o caso louco.
O violino
Agora as feras.
Na cidade em que morava
Schopenhauer quando menino havia um armazém que, à noite, era guardado por cães
ferocíssimos. Um dia, um violinista bêbado fez uma aposta em um bar e, para
pagá-la, pulou o muro do armazém e o invadiu, trocando pernas. Em um segundo,
viu-se cercado pelos monstros, que rosnavam com os dentes afiados à mostra,
prontos para dilacerá-lo até que virasse guisado. O que fez o violinista
bêbado? Teve presença de espírito para sacar de seu instrumento e tocar. Tocou,
tocou, tocou, até que os cachorros se aninharam a seus pés, mansinhos como
hamsters.
Sabia tocar pra cachorro, aquele
rapaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário