sábado, 22 de fevereiro de 2014


22 de fevereiro de 2014 | N° 17712
AFLIÇÕES AMOROSAS

LOUCOS DE DE CIÚMES

Itália do século 15. Na literatura, um general que serve o reino de Veneza, chamado Otelo, casa-se com Desdêmona, bela filha de um importante senador. Um de seus subordinados, Iago, inveja o poder do comandante. Para destruir sua felicidade, começa a insinuar uma possível traição da esposa com o jovem tenente Cássio. Ao imaginar Desdêmona com o amante, Otelo enlouquece de ciúme. Sem controle, mata a inocente mulher. Brasil do século 21. Na televisão, o músico Laerte se apaixona pela prima Helena. O amor une o casal desde a infância, mas o ciúme o separa antes do casamento. Transtornado pela ideia de uma possível traição de Helena com Virgilio, Laerte tenta assassinar o rapaz.

Seja pelo lendário Otelo de Shakespeare ou pela novela Em Família, exibida às 21h na RBS TV, o ciúme já rendeu assunto para a ficção. E muita tragédia na vida real. Ainda que seja considerado por muitos como o tempero do amor, especialistas alertam: quando em excesso, pode ser considerado uma doença. Em muitos casos associado a outros transtornos neurológicos, o ciúme patológico é normalmente baseado em delírios de traição e desejo obsessivo de controle sobre o parceiro.

Conforme o psiquiatra Paulo Belmonte de Abreu, chefe do departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRGS, o ciúme pode ser entendido como o medo de perder uma pessoa amada para um terceiro. Ainda que complexo, o sentimento afeta pessoas de todas as idades. Estudos indicam que até bebês sentem ciúme em determinadas situações, como no período de nascimento de um irmão. O receio de perder a atenção da mãe pode gerar essa tensão, mesmo que a criança não consiga elaborar bem o sentimento que a aflige.

Apesar de ser desagradável, o ciúme cumpre um papel importante no amadurecimento emocional, pois faz parte do processo de formação e manutenção dos vínculos afetivos, explica o especialista:

– Ele provoca uma tensão, um mal-estar frente à ideia de perder uma pessoa importante para outro. É uma etapa que todos passam quando estabelecem uma relação mais íntima com alguém, seja naquelas de trabalho, familiares ou amorosas.

u Carga genética pode determinar a intensidade do sentimento

A intensidade do ciúme e se vai gerar consequências no afeto ou ser apenas uma tensão passageira depende de cada indivíduo.

– Temos uma carga genética que determina se somos mais ou menos ciumentos e aprendemos a lidar com isso ainda quando crianças, quando percebemos que não existe somente aquela dupla eu-mamãe, mas também existem outras duplas: mamãe-papai, mamãe-irmãozinho. Isso gera um forte sentimento de exclusão com o qual temos de lidar, também em outras relações, durante toda a vida – comenta o psiquiatra e psicanalista Marco Antonio Pacheco, chefe da Unidade de Psiquiatria do Hospital São Lucas da PUCRS.

Embora existam pessoas com mais ou menos tendência para serem ciumentas, a verdade é que ninguém está imune. E se há algum aspecto da vida em que esse sentimento é mais recorrente, com certeza é na esfera amorosa.


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