23 de fevereiro de 2014
| N° 17713
O CÓDIGO DAVID | DAVID
COIMBRA
Aconteceu NO VERÃO
Sua mesa era pequena, mesa para dois, colada à parede
do bar. Ela bebia um copo de cerveja e, às vezes, num gesto casual, espetava
com um palito azeitonas pretas ou cubos de queijo amontoados num pires.
Era terça-feira. Noite de tango
no Odeon.
O bandoneonista, o velho Rafael,
pequeno e encurvado debaixo de seus cabelos totalmente brancos, parecia
remoçado, parecia um adolescente, agora que se deleitava ao tocar seu
instrumento e ao ouvir os aplausos dos poucos clientes do bar. E Dionara, a
pianista, Dionara se transformava em uma diva do Prata quando os dedos corriam
sobre as teclas brancas e pretas.
Ela, a moça da mesa ao lado,
ouvia a música sozinha e calada, e bebia sem pressa a sua cerveja. Tinha um
rosto bonito, os cabelos presos num coque amarrado na nuca e vestia-se como se
estivesse em casa: uma camiseta larga sobre as calças jeans. Depois de alguns
minutos, colheu o copo da mesa, levantou-se e caminhou até a porta. Parou na
calçada. Encostou-se à parede do bar. Apoiou o copo numa espécie de guarda da
porta e acendeu um cigarro.
Ficou olhando os músicos, ouvindo
o tango, fumando. O vento lhe desalinhava os cabelos, e ela vez ou outra enchia
os pulmões com o ar da noite. Em meio a um tango mais triste, entre tantos
tangos tristes, ela entreabriu os lábios e seu rosto enrubesceu de leve. Então,
vi. Seus olhos ficaram rasos d’água. Não chegou a chorar. Quase. Mas não chegou
a chorar. Terminado o tango, ela voltou à mesa colada à parede, pediu a conta,
pagou e saiu em silêncio, carregando, devagar, o peso da sua nostalgia.
Na piscina
Meu filho Bernardo, de seis anos,
foi convidado para refrescar-se do calor sul brasileiro na piscina da casa de
uma amiguinha da mesma idade. Lá estavam ele, a amiga e outra menininha
encostados na borda da piscina, quando uma delas desafiou:
– Vamos ver quem chega mais
rápido à outra borda?
O B desdenhou:
– Não, não... Estou muito velho
pra essas coisas...
No mundo do
Facebook
Nos calores dos albores de
fevereiro, entrei no Facebook. Meu fake cedeu-me generosamente a senha da minha
própria página e passei alguns dias fresteando por esse novo e estranho mundo.
Juro que nunca cevei preconceitos
contra o Facebook, meu problema é falta de tempo. E, olha, reconheço e festejo
sua utilidade. As pessoas têm necessidade de se expressar, e nem todo mundo
escreve em jornal e fala na rádio e na TV. Trata-se de uma ferramenta tão
poderosa que muitos dos meus colegas jornalistas confundem redes sociais com
imprensa. São coisas diferentes. As redes sociais inevitavelmente têm de ser
horizontais e a imprensa inevitavelmente tem de ser vertical e... mas isso é
conversa técnica. Não interessa.
O que interessa é o mundo
palpitante do Facebook. Que nem sempre é palpitante. Ora é, como diria o Eça,
uma maçada, não muito diferente do real, vivido no dia a dia, no olho no olho.
Mas em um aspecto é um mundo especial: é nele que as pessoas dizem como
gostariam de ser e como querem que os outros as vejam. Cada post, cada foto tem
um recado subjacente, uma informação sobre aquele ser humano. Valeria um estudo
antropológico e psicológico mais profundo. Que eu não teria competência para
fazer.
Resta-me o desfrute. Que não é
pouca coisa. Neste lufa-lufa, como diria o José de Alencar, descobri ninguém
menos do que ela...
...A Rainha do Facebook. Chama-se
Isadora Neumann, trabalha na Zero Hora e, nunca pensei que diria isso de uma
pessoa, posta como poucos postam. Isa lança pela vida digital diamantes
diários. Zuckerberg deveria pagá-la por isso. Aprenda:
“No bar.
– Bruna, por que na tua comanda
está escrito “Carol”?
Bruna:
– Porque tô entediada.”
“Acabei de usar ponto e vírgula.
Pronto. Virei uma pessoa séria”.
“Ontem eu descobri que “saudade”
não existe só em português, e agora eu não acredito em mais nada que me dizem”.
“Problemas da era digital.
Bruna Scirea está P da cara
porque não consegue enviar e-mails para FêCris que está sentada na sua frente”.
“Por um mundo com brigadeiro de
cerveja”.
“E eu sempre achei que couve era
alface”.
“Não vou revelar onde estou, mas
respeito muito um estabelecimento onde a senha do wi-fi é DEPUTAMADRE”.
“Só agora me dei conta: não
existe onço, só onça”.
Viu? O mundo digital pode ser
mais colorido.
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