16 de fevereiro de 2014
| N° 17706
CLAUDIA TAJES
Só a Catherine Deneuve não sua
Não sei se foi descoberta do Luis
Fernando Verissimo ou obra do Criador, mas houve um tempo em que se dizia que a
Catherine Deneuve, então a mulher perfeita, não suava e nem tinha aqueles
resíduos pretinhos que às vezes se acumulam no umbigo dos mortais, sabe? Como a
Deneuve passou por aqui no distante agosto de 1984, durante um inverno de
renguear cusco, não deu para pôr à prova. Mas duvido que ela aguentasse um
minuto na Porto Alegre de agora sem virar uma massa pastosa, grudenta, de
cabelos úmidos e sex appeal zero. Que verão.
O calor, que bem pode ter
diminuído até a publicação desta coluna mas que certamente vai nos assombrar
por muito tempo, acaba sendo o tema da maior parte dos assuntos e pensamentos.
Notou como anda todo mundo irritado? Bebês chorando, crianças brigando, adultos
se estranhando. Parece que até o Bento, o cachorro-galã, andou mordendo um
carteiro. A dona dele afirma que, com temperaturas abaixo dos 30 graus, o
peludo jamais faria isso.
Em um dos picos de quentura da
semana passada, vi no estacionamento de um shopping uma briga que quase
terminou com um tiro. Por causa de uma vaga. E o que dizer das pessoas sem
condução para ir e voltar exatamente quando a temperatura entrou em ebulição?
Greve sim, mas um pouquinho de consideração com os usuários não faria nada mal
ao movimento. Além do calor como ele é, ainda existem as condições que determinam
a tal da sensação térmica. Ou sensação de inferno, como seria mais apropriado
chamar. Ganha força a tese de que Porto Alegre se desprendeu da Terra e agora
orbita muito próxima ao sol. Aqui, os acessórios que não podem faltar na
indumentária das mulheres modernas custam bem menos do que uma bolsa Prada ou
uma sandália Manolo: são uma toalha e uma sombrinha.
Fenômeno: os condicionadores de
ar e ventiladores sumiram das lojas. Ventilador, vá lá. Tem de todos os preços
e, apertando aqui e ali, dá-se um jeito de comprar. Mas condicionador de ar é
caro. E precisa de instalação, que para acessível não serve. Como disse um
vendedor: é mais fácil encontrar um bilhete premiado da megasena que um
ar-condicionado na cidade. Na última passada pelas lojas, lista de espera de 10
dias úteis – ”mas pode ser mais, a gente nunca garante”. Ao que um senhor
respondeu: “Em 10 dias, meu amigo, eu já virei um Doritos torrado, crocante e
com sabor bacon”.
É preciso estar sempre com a
roupa de baixo bonitinha porque nunca se sabe quando pode acontecer um
acidente. Lembrei das palavras da minha avó ao perceber um zumbido nos ouvidos,
um enjôo insuportável e o mundo fora de foco. Era tanto calor que a pressão
despencou e desmaiei mesmo, eu que sou um cavalo de tão forte. Ou esse inferno
dá uma trégua ou a próxima coisa a terminar na cidade serão os estoques de
roupa de baixo bonitinha.
Voltando a Deneuve, que dá título
à coluna. Quando esteve no Rio de Janeiro em 2011 para promover seu filme
Potiche, ela acendeu um cigarro em plena coletiva e esse fato virou um assunto
muito mais importante do que a entrevista. Chateada, reclamou: “Não sabia que
não se podia fumar. Na França, se o dono da casa não se importar, fuma-se. Eu
atravessei o oceano para trabalhar aqui e ninguém fala disso, só do meu
cigarro.
Já pedi desculpas, o que mais
posso fazer? O mundo politicamente correto é uma chatice”. E sobre ser uma musa
já com mais de 70: “Minha sorte é que não filmo nos Estados Unidos, onde quase
não existem papeis para atrizes mais velhas. Envelhecer é mais fácil para as
europeias e as latinas”. Boa atriz, inteligente, não tem rosquinha no umbigo e,
ao que tudo indica, não sua. Dane-se a idade, a Deneuve ainda é a mulher
perfeita.
De tudo o que a semana trouxe de
pesado, nada foi pior do que ficar sem o Nico Nicolaiewsky. Não que eu o
conhecesse muito, ia aos shows e, bem de vez em quando, o encontrava por aí.
Volta e meia, um abraço no Olímpico, na alegria e na tristeza. Se para a gente,
que admirava como fã, é duro, imagina para a Márcia, a Nina e a família. Muita
força para elas.
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