12 de fevereiro de 2014
| N° 17702
ARTIGOS - Giovani
Feltes*
Foi-se o bigode, veio a desilusão!
É inegável, sob todos os
aspectos, a urgência na repactuação das dívidas de Estados e municípios com a
União. Estabelecidos sob um momento da economia brasileira que exigia
austeridade fiscal máxima diante do descontrole das contas públicas na luta
contra a inflação, os contratos se mostraram, ao longo do tempo, como um dos
principais obstáculos à nossa autonomia administrativo-financeira, submetendo
qualquer novo investimento em obras a mais endividamento.
Por isso, o recuo do governo
central em permitir que o Senado aprovasse a substituição do indexador da
dívida é, mais uma vez, resultado de uma posição submissa ao mercado financeiro
e de desrespeito a padrões mínimos nas relações entre entes federados. É
imprescindível a substituição do IGP-DI por um índice mais fiel à inflação e
com juros que o mercado aplica atualmente. Não é a repactuação desejada a ponto
de reverter o descompasso de contrato que obriga o RS a repassar R$ 2,6 bilhões
ao ano para a União. Mas é a revisão possível.
Agora vem o governador Tarso
Genro prever que, se não houver a aprovação do projeto que muda as regras da
dívida, o Estado ficará ingovernável a partir de 2015, sem qualquer condição de
financiar novas obras (como é o caso do metrô da Capital) e vários programas
sociais ameaçados de desaparecer. Simplesmente beira o deboche vermos um
governador descrever um quadro das finanças sobre o qual ele tem enorme
responsabilidade, algo que vínhamos alertando desde 2011.
O protagonismo que tenta ostentar
nos últimos dias em favor da repactuação da dívida lhe faltou nos últimos três
anos neste tema e na questão do déficit previdenciário. Na verdade, Tarso
ampliou como nunca a crise nas finanças. Novos empréstimos elevaram a dívida
consolidada a um patamar superior aos R$ 50 bilhões com a promessa de um
“Estado indutor” que não veio, a julgar pela previsão do próprio.
Nem mesmo os saques nos depósitos
judiciais (R$ 4,7 bilhões) e nos fundos de investimentos (R$ 800 milhões), mais
o dinheiro da CEEE (R$ 1,3 bilhão) e o lucro histórico do Detran (R$ 450
milhões) foram suficientes para estancar um rombo de R$ 1,4 bilhão nas contas
de 2013. São alternativas que se esgotaram e que não estarão disponíveis ao
próximo governador, mas que, seja ele quem for, terá de arcar com reajustes
salariais já aprovados até 2018.
Mais do que uma mudança estética,
ao tirar o bigode, Tarso conseguiu ver com clareza uma realidade que, no
mínimo, lhe exigia maior responsabilidade com a história do RS. A desilusão que
o abateu agora é ínfima diante do sentimento similar do povo gaúcho.
*DEPUTADO ESTADUAL
(PMDB) E PRESIDENTE EM 2012 DA COMISSÃO ESPECIAL SOBRE AS DÍVIDAS DO
RS
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