13 de fevereiro de 2014
| N° 17703
CAROL BENSIMON
Alexandria, Egito
Meus avós maternos e minha mãe
nasceram em Alexandria, no Egito. Sempre foi estranho dizer isso às pessoas.
Normalmente era algo que eu declarava numa tentativa de justificar por que
diabos eu sabia falar francês. “Nossa, tu fala francês.” “Minha família é de
Alexandria. Eles sempre falaram francês em casa.” Mas acho que isso não
explicava muita coisa nem para mim mesma, uma vez que a relação entre
Alexandria e a língua francesa me parecia um mistério. O Egito não fora uma
colônia britânica, afinal?
Para complicar, nós éramos
judeus. E tínhamos sido expulsos! Quando eu era criança, isso me parecia um
ataque quase pessoal, e era difícil que não soasse desta maneira para meu
interlocutor quando eu dizia: “Nós fomos expulsos do Egito”. Expulsos daquele
paraíso chamado Alexandria. Meu vô assobiava velhas canções árabes pela casa.
Expulsos por Nasser em 1957. Meu vô sonhando com sanduíche de falafel a uma
piastra por 55 anos. E aí tinha a história daquele tio que jogou o carro no
Mediterrâneo porque o governo ia confiscar de qualquer maneira os bens de todos
os judeus, franceses e ingleses.
Quando a gente se reunia para o
jantar de Pessach no apartamento dos meus avós, eu sabia que aquela bolachinha
ruim simbolizava a saída às pressas dos judeus do Egito e blá blá blá (algo
sobre não ter dado tempo de esperar o pão crescer). Para mim, isso parecia uma
coincidência incrível.
Foi só bem depois que eu entendi
que aquela viagem sem volta dos Bensimon estava diretamente ligada à
nacionalização do Canal de Suez. Que Nasser e sua relação com os soviéticos
selaram o nosso destino. Que Israel, a França e a Grã-Bretanha fizeram o mesmo
ao traçarem um plano vergonhoso às escondidas em um castelo de Sèvres, sudoeste
de Paris. E que um diplomata canadense, Lester Pearson, salvou o mundo do que
poderia se tornar uma III Guerra Mundial.
Curioso. Se minha vida tivesse
sido atravessada por tantos fatos marcantes do século 20 (inclua aí bombardeios
da II Guerra e o exército de Rommel chegando a poucos quilômetros de
Alexandria), eu não ia parar de contar essas histórias nem por um segundo.
Diferenças geracionais, claro. Navegar nas turbulências históricas era só o
jeito como as coisas eram. Ficava a saudade do sanduíche de falafel.
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