ELIO GASPARI
O Planalto caiu na arapuca do
PMDB
Dilma achou que podia tudo e viu
que os inimigos do seu governo estão naquilo que chamam de 'base de apoio'
A ideia era simples: um ministro
cuidaria da base de apoio, e outro lidaria com os movimentos sociais. Primeiro
ferveu Gilberto Carvalho, quando os protestos de rua saíram do nada, de fora do
cadastro de convênios do palácio. Depois confundiu-se o que seria um
desprestígio palaciano da ministra Ideli Salvatti com uma barafunda na qual as
lideranças parlamentares não se entendem entre si, nem com o Planalto.
O resultado está aí. Numa reforma
ministerial de quinta categoria, sem ideia nem projeto, a doutora Dilma vê-se
obrigada a cortejar o PMDB indo a jantares inúteis (se não arriscados) na casa
do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Enquanto isso, representantes de
grandes empresas (Gerdau, Ambev, Andrade Gutierrez, OAS e até a Souza Cruz)
foram a outro jantar, pluripartidário, na casa do presidente da Câmara,
Henrique Alves (PMDB-RN).
Ano eleitoral é assim mesmo.
Empresário que gosta de jantar no Planalto vai à casa de deputado para botar
medo num governo assustado. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo,
queixa-se dos empresários que ficam "fazendo beicinho" e propõe que
se discuta "a relação". Essa é a armadilha em que caiu a doutora. A
infantaria do PMDB e a intendência do empresariado entram nessas discussões
seguindo o conselho de Ivana, a primeira mulher do folclórico milionário
americano Donald Trump. Ela ensinou: "Não fique com raiva, fique com
tudo".
O PAPA E A
DOUTORA
Eleito papa, Francisco pediu aos
argentinos que dessem dinheiro aos pobres em vez de ir a Roma saudá-lo. Há
pouco, decidiu tirar um passaporte comum argentino.
Doutora Dilma foi para Roma
festejar o barrete de d. Orani Tempesta. Na comitiva, um lote de passaportes
especiais.
DEUSES
O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, quer federalizar a investigação dos crimes cometidos contra
jornalistas. Ganha uma viagem de ida a Cuba quem souber explicar por que os
jornalistas devem receber essa proteção (se proteção for) e não os padres,
pipoqueiros, pintores de parede.
Madame Natasha procura uma
explicação para o fato de, em português, os jornalistas se atribuírem a
capacidade de produzir "matérias". Pela sua conta, esse poder só é
atribuído a Deus. Em outros idiomas eles produzem histórias, artigos ou
reportagens, mas matéria, ainda não. Talvez Cardozo queira dar tratamento
divino aos jornalistas. Até 1964 eles eram isentos do pagamento de Imposto de
Renda e tinham desconto de 50% nas passagens aéreas. Resultado: Zica, o
"Rei do Contrabando", era jornalista.
EREMILDO, O
IDIOTA
Eremildo é um idiota e não está
entendo mais nada:
Quem toca fogo em carros no
Brasil é terrorista. Em Kiev é manifestante. No máximo, quando estocam armas,
são "manifestantes radicais". Quando o venezuelano Leopoldo Lopez
entrega-se à Justiça de punho fechado, é "líder da oposição". Para os
comissários bolivarianos, ele é um terrorista ligado aos
"manifestantes" que incendiaram a entrada do Ministério Público de
Caracas.
SANTA RUTH
Quando surgiram os primeiros
indícios do mensalão mineiro, Ruth Cardoso defendeu, numa conversa de
grão-tucanos, que o partido se afastasse do ex-governador Eduardo Azeredo, que
então presidia o PSDB.
À época isso poderia ter sido
feito com elegância.
A DAMA DOURADA
Está chegando às livrarias
"A Dama Dourada", com a linda história do retrato da milionária Adele
Bloch-Bauer, pintado em 1907 por Gustav Klimt.
É um daqueles livros que acaba e
recomeça. No caso, pelo menos quatro vezes. Primeiro vem o quadro em si, com
uma milionária posando (e namorando?) um pintor excêntrico. Ela morre aos 34
anos, em 1925, e depois a fortuna de seu marido é confiscada pelos nazistas. A
história podia acabar aí, mas o governo austríaco tentou ficar com o quadro,
tungando herdeiros.
Nessa hora apareceram uma
sobrinha que vivia nos Estados Unidos, um repórter e um jovem advogado.
Humilharam os poderosos de Viena e hoje o quadro está na Quinta Avenida, em
Nova York, na Neue Gallery, a poucos quarteirões do Metropolitan Museum. Valeu
135 milhões de dólares.
A história da "Dama
Dourada" é uma viagem a um tempo de surpresas. O marido de Adele era um
barão do açúcar e morreu pobre. A sobrinha cuidava de uma loja de roupas e
morreu milionária. Uma tia foi para o Canadá. Num jantar, sua filha conheceu um
jovem que fugira da Alemanha aos 15 anos e lavara pratos num hotel. Era um
príncipe da casa de Auersperg, cuja linhagem remonta ao século 11.
Apaixonaram-se e viveram felizes para sempre. Ela tornou-se uma grande
cancerologista.
SETE DESTINOS MUDADOS
NUM NOVO PAÍS
De técnico de futebol, vidente e
sociólogo, todo mundo tem um pouco. Aqui vai um teste para quem se julga capaz
de estimar o futuro de oito jovens cariocas.
Duas moram na Rocinha. O pai de
uma das meninas é garagista, e a renda da família fica em R$ 1.300. O pai da
outra é porteiro. Uma terceira mora com a mãe num quarto alugado de outra
comunidade. Não têm ajuda do pai e vivem com R$ 630 por mês. A quarta mora em
Caxias, seu pai é vendedor e leva para casa R$ 2.500.
O quinto garoto vive com a mãe,
que é cozinheira ocasional. Outro jovem mora num porão de loja, com pai
desempregado e mãe diarista, levando para casa R$ 1.100 mensais.
Do grupo, só uma jovem vive em
apartamento próprio, em bairro de classe média.
A sabedoria convencional
projetaria futuros de dificuldades e catástrofes para quase todos. Afinal, o
Brasil seria um país de injustiças, com um sistema educacional elitista. Prova
disso viu-se entre 1996 e 1998, quando a PUC paulista organizou uma campanha
financeira junto a 120 mil ex-alunos (24 mil dos quais ex-bolsistas) e
arrecadou pouco mais que a postagem de 40 mil cartas.
As coisas mudam. Desde 2010, um dos
maiores empresários do país, formado em universidade pública, patrocina o curso
e a manutenção básica de estudantes estudantes pobres, aprovados no vestibular
de engenharia uma das melhores (e mais caras) universidades do país. Deu no
seguinte:
sete tiveram bom desempenho. Seis
estão a caminho da formatura como engenheiros, e um vai se diplomar em sistemas
de informação. Três preparam-se para buscar intercâmbios no Canadá, Portugal ou
na China. Dois estudam alemão.
A universidade e o empresário
monitoram as notas e as contas dos jovens. Ele gratifica-se trocando mensagens
e aconselhando a garotada. As doações custam R$ 360 mil por ano, ou US$ 150
mil. Parece muito dinheiro, mas, fazendo-se a conta, vê-se que o valor real
está na alma de quem dá. As anuidades dos cursos de engenharia nas grandes
universidades americanas estão cerca de US$ 50 mil. Cada bolsista brasileiro
custa US$ 19 mil anuais. Se um em cada dez endinheirados nacionais que
estudaram de graça seguisse o exemplo do empresário, o Brasil seria outro, mais
depressa.
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