sábado, 15 de fevereiro de 2014


16 de fevereiro de 2014 | N° 17706
PAULO SANT’ANA

O idiota convicto

Hoje, vou ocupar-me de um tipo tradicional que viceja nas sociedades humanas e sociais: o idiota convicto.

O idiota convicto se imiscui com habilidade onde quer que esteja instalada uma discussão.

E entra no debate e lança o veneno sutil da sua idiotia. Logo em seguida, por isso, causa um tumulto em torno da sua pregação.

Sua maior utilidade é, sem dúvida, que brilham extraordinariamente muitos dos que imediatamente se postam contra as ideias do idiota convicto.

Ou seja, o idiota convicto é como esses pássaros que servem somente para a propagação florestal ao irem depositar bem longe os seus excrementos.

Não raro, o idiota convicto – e isso acontece principalmente nos debates – coloca um verniz de cultura e eloquência na exposição de suas ideias. É isso que atrai as pessoas para a sua explanação.

Logo em seguida, nota-se, no entanto, que por trás do esplendor da sua expressão paira um abismo gigantesco de burrice, uma ausência, a mais completa, de racionalidade.

Também não raro, ao defender suas ideias, o idiota convicto se mostra fogoso em meio à sua erudição. Ou seja, suas ideias surgem sempre envelopadas em tecido nobre, mas penetra-se nele e vai se notar que suas teses se esfarelam no mais completo ilogismo e na mais obscura inanição intuitiva.

O idiota convicto, como já comprovei numa coluna do ano passado, é figura imprescindível em qualquer debate intelectualizado. Não há como negar que o maior pauteiro de um debate de tal ordem é o idiota convicto. Ele anima os saraus da dialética.

E é tão frequente e arrasadora a sua prosa irracional, que se consagram em torno dele todos os opositores às suas ideias, tal a obtusidade de seus raciocínios.

O idiota convicto possui uma atração irresistível pelos grandes assuntos da atualidade. Eu diria que ele disfarça o seu falso conhecimento abordando assuntos da atualidade, com a finalidade de atrair para o centro da arena de sua pauta muitos circunstantes.

E constato que as rodas mais refinadas sentem emanar do idiota convicto ondas magnéticas, são atraídas por ele, que constrói um certo charme no entorno de sua boçalidade. Chega ao ponto, o idiota convicto, de ficar famoso ou até célebre por sua burrice crônica.

É muito proverbial a presença de idiotas convictos nos torneios de inteligência.


Não sei como, mas o idiota convicto sempre encontra meio de inscrever-se nos concursos de pessoas lúcidas. Ele é o fogo-fátuo dos encontros culturais e dialéticos, parece nitidamente que emana dele o brilho falso, caleidoscópico e fugidio do arco-íris.

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