16 de fevereiro de 2014
| N° 17706
PAULO SANT’ANA
O idiota convicto
Hoje, vou ocupar-me de um tipo
tradicional que viceja nas sociedades humanas e sociais: o idiota convicto.
O idiota convicto se imiscui com
habilidade onde quer que esteja instalada uma discussão.
E entra no debate e lança o
veneno sutil da sua idiotia. Logo em seguida, por isso, causa um tumulto em
torno da sua pregação.
Sua maior utilidade é, sem
dúvida, que brilham extraordinariamente muitos dos que imediatamente se postam
contra as ideias do idiota convicto.
Ou seja, o idiota convicto é como
esses pássaros que servem somente para a propagação florestal ao irem depositar
bem longe os seus excrementos.
Não raro, o idiota convicto – e
isso acontece principalmente nos debates – coloca um verniz de cultura e
eloquência na exposição de suas ideias. É isso que atrai as pessoas para a sua
explanação.
Logo em seguida, nota-se, no
entanto, que por trás do esplendor da sua expressão paira um abismo gigantesco
de burrice, uma ausência, a mais completa, de racionalidade.
Também não raro, ao defender suas
ideias, o idiota convicto se mostra fogoso em meio à sua erudição. Ou seja, suas
ideias surgem sempre envelopadas em tecido nobre, mas penetra-se nele e vai se
notar que suas teses se esfarelam no mais completo ilogismo e na mais obscura
inanição intuitiva.
O idiota convicto, como já
comprovei numa coluna do ano passado, é figura imprescindível em qualquer
debate intelectualizado. Não há como negar que o maior pauteiro de um debate de
tal ordem é o idiota convicto. Ele anima os saraus da dialética.
E é tão frequente e arrasadora a
sua prosa irracional, que se consagram em torno dele todos os opositores às
suas ideias, tal a obtusidade de seus raciocínios.
O idiota convicto possui uma
atração irresistível pelos grandes assuntos da atualidade. Eu diria que ele
disfarça o seu falso conhecimento abordando assuntos da atualidade, com a
finalidade de atrair para o centro da arena de sua pauta muitos circunstantes.
E constato que as rodas mais
refinadas sentem emanar do idiota convicto ondas magnéticas, são atraídas por
ele, que constrói um certo charme no entorno de sua boçalidade. Chega ao ponto,
o idiota convicto, de ficar famoso ou até célebre por sua burrice crônica.
É muito proverbial a presença de
idiotas convictos nos torneios de inteligência.
Não sei como, mas o idiota
convicto sempre encontra meio de inscrever-se nos concursos de pessoas lúcidas.
Ele é o fogo-fátuo dos encontros culturais e dialéticos, parece nitidamente que
emana dele o brilho falso, caleidoscópico e fugidio do arco-íris.
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