sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Jaime Cimenti

Para que serve o jornalismo?

A última edição da Revista de Jornalismo ESPM - Edição Brasileira, da Columbia Journalism Review, dedica matéria de capa com dezenas de páginas sobre as funções do jornalismo e dos jornalistas. Numa era de toneladas de informações diárias, muitas instantâneas, por vários meios, especialmente os eletrônicos, deve-se pensar sobre as tarefas de informar, fiscalizar, debater, educar e entreter que cabem ao jornalismo.

No momento em que lamentamos a trágica morte do repórter cinematográfico Santiago Ilidio Andrade, atingido em plena atividade quando cobria manifestação contra o aumento das passagens no Rio de Janeiro, é preciso refletir sobre os rumos da mídia e da sociedade.

O repórter estava apenas trabalhando, cumprindo sua tarefa e, ao que tudo indica, foi atingido por rojão acionado por manifestantes. Santiago Andrade não é o primeiro e, infelizmente, não deverá ser o último profissional da imprensa a morrer em serviço. Mas sua morte deve alertar para o alto grau de violência em que chegamos e como nosso País vai deixando de ser a terra dos homens cordiais e da relativa paz social para se tornar cada dia mais violento. A morte violenta do cinegrafista, reportando o protesto em pleno e legítimo exercício da profissão, em local público, tentando servir à sociedade e à democracia, é algo que deve nos envergonhar e exigir ações adequadas.

O mundo e as pessoas, desde antes das cavernas, sempre apresentou doses de violência mas, em pleno século XXI, depois de tanto esforço civilizatório, ver um jornalista morrer desta maneira é estarrecedor. Alguns podem pensar que o profissional assassinado deveria estar usando equipamentos de proteção; outros vão dizer que ele é um herói, que dignificou a profissão e outros vão dizer que só morrem as causas pelas quais ninguém morre, que Santiago Andrade morreu por ideais jornalísticos. Hoje, uma das tarefas mais interessantes de um jornalista é tornar seus leitores, ouvintes e telespectadores também jornalistas, informantes, debatedores, comentadores, críticos e intérpretes.


A última missão profissional de Santiago Andrade foi nos alertar para o inaceitável grau de violência e barbárie que anda por aí. Sua morte não ocorreu em vão. Ela nos mata mais um pouco, nós que somos todos um pouco jornalistas, nós que precisamos encontrar novos comportamentos e viver mais  em paz. Ela nos mostra, dolorosamente, para que serve o jornalismo. O antigo, bom, verdadeiro e indispensável jornalismo.

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