Jaime Cimenti
Para que serve o jornalismo?
A última edição da Revista de
Jornalismo ESPM - Edição Brasileira, da Columbia Journalism Review, dedica
matéria de capa com dezenas de páginas sobre as funções do jornalismo e dos
jornalistas. Numa era de toneladas de informações diárias, muitas instantâneas,
por vários meios, especialmente os eletrônicos, deve-se pensar sobre as tarefas
de informar, fiscalizar, debater, educar e entreter que cabem ao jornalismo.
No momento em que lamentamos a
trágica morte do repórter cinematográfico Santiago Ilidio Andrade, atingido em
plena atividade quando cobria manifestação contra o aumento das passagens no
Rio de Janeiro, é preciso refletir sobre os rumos da mídia e da sociedade.
O repórter estava apenas
trabalhando, cumprindo sua tarefa e, ao que tudo indica, foi atingido por rojão
acionado por manifestantes. Santiago Andrade não é o primeiro e, infelizmente,
não deverá ser o último profissional da imprensa a morrer em serviço. Mas sua
morte deve alertar para o alto grau de violência em que chegamos e como nosso
País vai deixando de ser a terra dos homens cordiais e da relativa paz social
para se tornar cada dia mais violento. A morte violenta do cinegrafista,
reportando o protesto em pleno e legítimo exercício da profissão, em local
público, tentando servir à sociedade e à democracia, é algo que deve nos
envergonhar e exigir ações adequadas.
O mundo e as pessoas, desde antes
das cavernas, sempre apresentou doses de violência mas, em pleno século XXI,
depois de tanto esforço civilizatório, ver um jornalista morrer desta maneira é
estarrecedor. Alguns podem pensar que o profissional assassinado deveria estar
usando equipamentos de proteção; outros vão dizer que ele é um herói, que
dignificou a profissão e outros vão dizer que só morrem as causas pelas quais
ninguém morre, que Santiago Andrade morreu por ideais jornalísticos. Hoje, uma
das tarefas mais interessantes de um jornalista é tornar seus leitores,
ouvintes e telespectadores também jornalistas, informantes, debatedores,
comentadores, críticos e intérpretes.
A última missão profissional de
Santiago Andrade foi nos alertar para o inaceitável grau de violência e
barbárie que anda por aí. Sua morte não ocorreu em vão. Ela nos mata mais um
pouco, nós que somos todos um pouco jornalistas, nós que precisamos encontrar
novos comportamentos e viver mais em paz.
Ela nos mostra, dolorosamente, para que serve o jornalismo. O antigo, bom,
verdadeiro e indispensável jornalismo.
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