13 de fevereiro de 2014
| N° 17703
L.F.VERISSIMO
O incrível e o inacreditável
Incrível e inacreditável querem
dizer a mesma coisa – e não querem. Incrível é elogio. Você acha incrível o que
é difícil de acreditar de tão bom. Já inacreditável é o que você se recusa a
acreditar de tão nefasto, nefário e nefando – a linha média do Execrável
Futebol Clube.
Incrível é qualquer demonstração
de um talento superior, seja o daquela moça por quem ninguém dá nada e abre a
boca e canta como um anjo, o do mirrado reserva que entra em campo e sai
driblando tudo, inclusive a bandeirinha do córner, o do mágico que tira moedas
do nariz e transforma lenços em pombas brancas, o do escritor que torneia
frases como se as esculpisse.
Inacreditável seria o Jair
Bolsonaro na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em
substituição ao Feliciano, uma ilustração viva da frase “ir de mal a pior”.
Incrível é a graça da neta que
sai dançando ao som da Bachiana nº 5 do Villa Lobos como se não tivesse só
cinco anos, é o ator que nos toca e a atriz que nos faz rir ou chorar só com um
jeito da boca, é o quadro que encanta e o pôr de sol que enleva.
Inacreditável é, depois de 2 mil
anos de civilização cristã, existir gente que ama seus filhos e seus cachorros
e se emociona com a novela e mesmo assim defende o vigilantismo brutal, como se
fazer justiça fosse enfrentar a barbárie com a barbárie, e salvar uma sociedade
fosse embrutecê-la até a autodestruição.
Incrível, realmente incrível, é o
brasileiro que leva uma vida decente mesmo que tudo a sua volta o chame para o
desespero e a desforra.
Inacreditável é que a reação mais
forte à vinda de médicos estrangeiros para suprir a falta de atendimento no
interior do Brasil, e a exploração da questão dos cubanos insatisfeitos para
sabotar o programa, venha justamente de associações médicas.
Incrível é um solo do Yamandu.
Inacreditável é este verão.
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