23 de fevereiro de 2014
| N° 17713
ARTIGOS - Moisés
Mendes*
O mensalão tucano é um fracasso
É cruel a situação de Eduardo
Azeredo como principal personagem do mensalão tucano. Falta tudo a Azeredo para
que ele possa ser comparado às figuras do mensalão petista e corresponder a
qualquer expectativa de desfecho trágico, como ocorreu com José Dirceu, José
Genoino e até com Delúbio Soares. Não há equivalentes para Azeredo.
O ex-governador de Minas é tão
sem glamour e tão sem expressão dentro do próprio partido, que não se presta
nem mesmo para fazer o papel de vilão do PSDB na esperada vingança petista. A
conclusão mais cômoda indica que isso pode ser bom para os tucanos. Para a
política, que também precisa de vilões que possam duelar com um Roberto
Jefferson, é péssimo.
Azeredo ficará cozinhando em
banho-maria, desde a renúncia do mandato de deputado federal até o desfecho do
seu caso na Justiça de primeira instância. Serão longos anos. Mas daqui a
alguns meses ninguém mais se lembrará do mensalão tucano e poucos saberão quem
foi afinal Eduardo Azeredo.
O provável favorecido pelo
mensalão de Minas está condenado a não ser personagem de nada. Se tivesse
expressão, se tivesse poder dentro do partido, se fosse capaz de arregimentar
as trincheiras tucanas para resistir à acusação do procurador-geral de que foi
o grande beneficiado pelo esquema montado em 1998 para a sua reeleição, Azeredo
teria resistido por mais algum tempo. Testaria bravamente sua força e tombaria
atirando.
Azeredo entregou-se muito cedo. A
estratégia jurídica é a mais óbvia – seu caso se transformará num desses
imbróglios infindáveis de recursos e enrolações. Politicamente, desmorona-se aí
qualquer tentativa de comparação com o mensalão do PT, seus personagens e seus
desdobramentos.
Sintam-se à vontade para sentir
pena de Azeredo e de seu semblante sofrido de imagem barroca do Aleijadinho.
Logo depois da denúncia do procurador, tentaram compará-lo a Lula. Grupos
agiram em nome dos dois, mas ambos não sabiam de nada. Não dá.
Não há também como confrontá-lo
com os ex-guerrilheiros Dirceu e Genoino, condenados por corrupção depois de
santificados como heróis da resistência à ditadura. Dirceu e Genoino tinham
currículos a serem desmontados. Azeredo não oferece currículo algum. Procure,
sem pressa, um feito de Azeredo como governador, senador ou deputado.
O chefe do mensalão de Minas é um
fraco como personagem de um escândalo que pretendia se contrapor ao caso
petista. Escândalos financeiros, amorosos, políticos somente serão exemplares
se tiverem dimensão trágica – não necessariamente com mortes, mas com avalanches
destruidoras de histórias, reputações e projetos de poder, como aconteceu com o
julgamento do mensalão do PT.
Não há, além de Azeredo, nenhum
outro nome conhecido do esquema mineiro. Podem surgir? Delúbio Soares só ganhou
fama depois da denúncia de Jefferson. Gente importante do PT assegura que nunca
tinha ouvido falar de Delúbio antes de 2005. O tesoureiro é um personagem
grandiosamente trágico. Nunca transferiu responsabilidades, nunca acusou. Não
deu um pio. Há um Delúbio no caso do PSDB? Quem são, afinal, os personagens do
mensalão tucano?
O mensalão do PT foi flagrado
como parte de um projeto de dominação do Congresso por um partido no poder da
República. A versão tucana é fraca. O PT – segundo o Supremo – usava recursos
públicos para comprar apoio político de parlamentares. O PSDB usava recursos
públicos para reeleger Azeredo.
O consolo, para quem esperava a
revanche do lulismo, é que, sem o mensalão petista, provavelmente nunca se
saberia do mensalão tucano. O frustrante é que dificilmente teremos uma versão
tucana do julgamento do caso petista pelo Supremo.
Há coisas que só acontecem uma
vez. Quem viu, viu. Quem não viu nunca mais terá outra chance. Não houve um
segundo Woodstock. Não haverá um segundo show de Bob Dylan no Opinião. Nunca mais
teremos um julgamento como o do mensalão.
O grande escândalo tucano é o do
metrô paulista. Mas também aí há o problema da falta de personagens. Não há
escândalo sem personagens fortes, e não precisam ser shakespearianos. O
personagem do cartel que subornava gente do PSDB nos governos de São Paulo é um
executivo da Siemens assumidamente corruptor.
Mas o homem da Siemens também
parece fraco. Aprendemos com Pedro Simon que corruptor, no Brasil, sempre
escapa até de mostrar a cara. E os corrompidos do metrô até agora estão na
moita. De qualquer forma, dá para apostar mais nesse caso, como escândalo de
verdade, do que no mensalão do Azeredo.
*JORNALISTA
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