sábado, 22 de fevereiro de 2014


23 de fevereiro de 2014 | N° 17713
ARTIGOS - Moisés Mendes*

O mensalão tucano é um fracasso

É cruel a situação de Eduardo Azeredo como principal personagem do mensalão tucano. Falta tudo a Azeredo para que ele possa ser comparado às figuras do mensalão petista e corresponder a qualquer expectativa de desfecho trágico, como ocorreu com José Dirceu, José Genoino e até com Delúbio Soares. Não há equivalentes para Azeredo.

O ex-governador de Minas é tão sem glamour e tão sem expressão dentro do próprio partido, que não se presta nem mesmo para fazer o papel de vilão do PSDB na esperada vingança petista. A conclusão mais cômoda indica que isso pode ser bom para os tucanos. Para a política, que também precisa de vilões que possam duelar com um Roberto Jefferson, é péssimo.

Azeredo ficará cozinhando em banho-maria, desde a renúncia do mandato de deputado federal até o desfecho do seu caso na Justiça de primeira instância. Serão longos anos. Mas daqui a alguns meses ninguém mais se lembrará do mensalão tucano e poucos saberão quem foi afinal Eduardo Azeredo.

O provável favorecido pelo mensalão de Minas está condenado a não ser personagem de nada. Se tivesse expressão, se tivesse poder dentro do partido, se fosse capaz de arregimentar as trincheiras tucanas para resistir à acusação do procurador-geral de que foi o grande beneficiado pelo esquema montado em 1998 para a sua reeleição, Azeredo teria resistido por mais algum tempo. Testaria bravamente sua força e tombaria atirando.

Azeredo entregou-se muito cedo. A estratégia jurídica é a mais óbvia – seu caso se transformará num desses imbróglios infindáveis de recursos e enrolações. Politicamente, desmorona-se aí qualquer tentativa de comparação com o mensalão do PT, seus personagens e seus desdobramentos.

Sintam-se à vontade para sentir pena de Azeredo e de seu semblante sofrido de imagem barroca do Aleijadinho. Logo depois da denúncia do procurador, tentaram compará-lo a Lula. Grupos agiram em nome dos dois, mas ambos não sabiam de nada. Não dá.

Não há também como confrontá-lo com os ex-guerrilheiros Dirceu e Genoino, condenados por corrupção depois de santificados como heróis da resistência à ditadura. Dirceu e Genoino tinham currículos a serem desmontados. Azeredo não oferece currículo algum. Procure, sem pressa, um feito de Azeredo como governador, senador ou deputado.

O chefe do mensalão de Minas é um fraco como personagem de um escândalo que pretendia se contrapor ao caso petista. Escândalos financeiros, amorosos, políticos somente serão exemplares se tiverem dimensão trágica – não necessariamente com mortes, mas com avalanches destruidoras de histórias, reputações e projetos de poder, como aconteceu com o julgamento do mensalão do PT.

Não há, além de Azeredo, nenhum outro nome conhecido do esquema mineiro. Podem surgir? Delúbio Soares só ganhou fama depois da denúncia de Jefferson. Gente importante do PT assegura que nunca tinha ouvido falar de Delúbio antes de 2005. O tesoureiro é um personagem grandiosamente trágico. Nunca transferiu responsabilidades, nunca acusou. Não deu um pio. Há um Delúbio no caso do PSDB? Quem são, afinal, os personagens do mensalão tucano?

O mensalão do PT foi flagrado como parte de um projeto de dominação do Congresso por um partido no poder da República. A versão tucana é fraca. O PT – segundo o Supremo – usava recursos públicos para comprar apoio político de parlamentares. O PSDB usava recursos públicos para reeleger Azeredo.

O consolo, para quem esperava a revanche do lulismo, é que, sem o mensalão petista, provavelmente nunca se saberia do mensalão tucano. O frustrante é que dificilmente teremos uma versão tucana do julgamento do caso petista pelo Supremo.

Há coisas que só acontecem uma vez. Quem viu, viu. Quem não viu nunca mais terá outra chance. Não houve um segundo Woodstock. Não haverá um segundo show de Bob Dylan no Opinião. Nunca mais teremos um julgamento como o do mensalão.
  
O grande escândalo tucano é o do metrô paulista. Mas também aí há o problema da falta de personagens. Não há escândalo sem personagens fortes, e não precisam ser shakespearianos. O personagem do cartel que subornava gente do PSDB nos governos de São Paulo é um executivo da Siemens assumidamente corruptor.

Mas o homem da Siemens também parece fraco. Aprendemos com Pedro Simon que corruptor, no Brasil, sempre escapa até de mostrar a cara. E os corrompidos do metrô até agora estão na moita. De qualquer forma, dá para apostar mais nesse caso, como escândalo de verdade, do que no mensalão do Azeredo.


*JORNALISTA

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