Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
domingo, 21 de setembro de 2008
DANUZA LEÃO
O melhor dos mundos
Uma gripe é um habeas corpus para tudo: não ir àquele casamento, não pensar nas compras
UMA GRIPE é considerada, no mínimo, uma coisa desagradável. O corpo fica mole, a febre faz transpirar dia e noite, e como é uma doença banal, ninguém se preocupa com você, nem telefona para saber se melhorou. Uma gripe deixa o doente na mais cruel das solidões.
Há três dias estou gripada; uma gripe daquelas brabas, e me espantei quando soube que está fazendo muito calor. Estou na cama de meia de lã, suéter e cobertor. E por incrível que pareça, tiritando de frio.
Uma gripe te libera de quase tudo; o homem que vinha consertar a máquina de lavar não veio?
Seu mal-estar é tão grande que você não se incomoda; aliás, pouquíssimas coisas te incomodam. Você se liberta da televisão, porque não consegue acompanhar um filme, por melhor que ele seja, pois a febre te faz dormir.
Ler jornais é impossível, pois as eleições deixam de te interessar, a crise econômica menos ainda, e o pré-sal -bem, quem está interessado no pré-sal, naturalmente mais uma vitória do governo Lula, com 38C de febre? Uma gripe é o que há de mais salutar para nos afastar de tudo o que está acontecendo neste mundo.
Uma boa gripe impede você de pensar, o que é uma bênção. Quando se está gripado, só se pensa numa coisa: na hora de tomar os remédios, e ainda assim correndo o risco de trocar e fazer tudo errado.
Você fica jogada em cima da cama se levantando apenas para o essencial, e depois se atirando de novo debaixo das cobertas, achando aquele o melhor dos mundos. Não se tem fome, e um chazinho já feito, esquentado no microondas, é a delícia das delícias.
Muito bom uma gripe, mas daquelas que derrubam mesmo.
Uma gripe é um habeas corpus para tudo: não ir àquele casamento, não pensar nas compras do supermercado, não fazer ginástica, e pensar, apenas, em você mesma. Nem no telefone dá para falar, pois não há forças para conversar.
Mas para uma gripe ser perfeita, seus dois gatos devem estar na sua cama dormindo, dia e noite, te fazendo companhia e sem dizer que você precisa se alimentar.
Ninguém se preocupa com você -afinal, é apenas uma gripe-, mas em compensação você também não se preocupa com ninguém, nem com nada.
Mas a felicidade dura pouco, e um dia você acorda melhor, toma um banho, veste uma roupa normal, vai para a sala e abre o computador para ver seus e-mails. Pronto, acabou a paz.
Você ainda pode levar um dia -dois, no máximo- em casa, mas a realidade já entrou na sua vida. Pega um jornal e dá uma olhada na primeira página, liga a televisão para ver o que aconteceu no mundo, e lembra, com saudades, dos dias em que estava fora dele. Abre a agenda, vê tudo que deixou de fazer, e começa a telefonar para botar a vida em dia.
Como é difícil botar a vida em dia; e pensar que passamos o tempo assim, na maior parte das vezes por bobagens, a saia que mandou encurtar, o almoço que marcou para não falar de nada que interessasse -por que as mulheres tem a mania de sempre marcar um almoço?-, as contas que atrasaram e que agora só podem ser pagas num determinado banco (cada uma em um).
Pronto, a vida normal chegou. Mas que estava bem bom enquanto estava gripada, lá isso estava.
danuza.leao@uol.com.br
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