quarta-feira, 17 de setembro de 2008



17 de setembro de 2008
N° 15729 - DAVID COIMBRA


O sofrimento de Charles

Aos 10 anos de idade, meu avô trabalhava numa fábrica de calçados em Hamburgo Velho. Ironia, ele próprio não tinha sapatos, andava sobre grosseiros tamancos de madeira.

Era filho de alemães, falava um dialeto próprio da colônia, alemão mesclado com português. Era dura a vida daqueles imigrantes.

Aos 10 anos de idade, meu avô esmagou o dedo indicador da mão direita num torno da fábrica de sapatos. Não havia enfermaria no local, é evidente. Seus chefes amarraram o dedo com tiras de pano e o mandaram para casa.

Bem mais tarde, foi levado ao médico, que desfez as ataduras e constatou que o dedo fora atado dobrado. Dobrado ficou, pelo resto da vida.

Meu avô vivia brincando com aquele dedo torto, assustando os netos com ele, o que me fazia crer que não guardara nenhum trauma da experiência. Mas um dia, eu já crescido, ele me confidenciou que gostaria de usar um anel. Estranhei:

– E por que tu não compras um, vô? Ele me mostrou o dedo em garra:

– Como vou usar um anel tendo essas mãos?

Quando li “David Copperfield” lembrei da história da infância do meu avô. David, que é, claro, o personagem principal, teve de trabalhar ainda menino.

Sofreu as misérias impostas ao proletariado na Revolução Industrial da Inglaterra, misérias essas que inspiraram Karl Marx a escrever O Capital e a mudar o mundo para sempre. A diferença é que Marx não trabalhou na enfumaçada Londres, como meu xará, mas na cinzenta Manchester.

Escrevia em um apartamento sombrio, patrocinado por seu amigo Engels, assistido por sua compreensiva mulher, sentado sobre os furúnculos que o torturavam e o compeliam a verter para o papel frases pulsantes de fúria revolucionária. A tal ponto que um dia rosnou:

– Os capitalistas ainda vão pagar caro pelos meus furúnculos!

É essa a época em que se desenrola a trama de David Copperfield.

Mais tarde, descobri ser essa a história do próprio autor do livro, Charles Dickens. O pai do pequeno Charles era um perdulário sonhador.

Dissipou tudo que tinha, endividou-se até os gorgomilos e acabou preso – na Londres de então, princípios do século 19, os inadimplentes iam para a cadeia.

A mãe de Charles, preguiçosa e desnaturada, em vez de ela própria trabalhar para sustentar a família, arrumou um emprego para o filho. Aos 12 anos de idade, Charles Dickens mourejava como operário numa fábrica de graxa para sapatos. O que lhe calou fundo na alma. Adulto, ele um dia desabafou:

– Nunca perdoei, nunca perdoarei. Jamais.

Charles Dickens falava sobre sua própria mãe.

Tamanho ressentimento é algo poderoso. Transforma um ser humano e tudo mais o que há no seu entorno. Conheci algumas pessoas assim.

Quase todas amargas. Temo que Dunga esteja padecendo do mesmo mal. Ele já disse que a forma como foi assacado na Copa de 1990 o marcou para sempre.

– É uma dor que nunca passa – desabafou certo dia.

Já deveria ter passado. Dunga fez uma façanha quatro anos depois, provou ao mundo que é grande. Deveria continuar grande. Traumas podem produzir um clássico, como David Copperfield, mas, em geral, só o que produzem é sofrimento.

O fato de ter escrito David Copperfield deve ter ajudado Charles Dickens a se recuperar da dor. Porque ele soube aproveitar a vida.

Casou-se e, em meio ao casamento, trouxe para morar com ele suas duas cunhadas. Então, realizou o sonho de um sem número de maridos, os quais censuro com veemência: espadanou no pecado com ambas.

Regalava-se com as três irmãs. Quando ficou mais velho e mais famoso, trocou todas por uma única, que, dizem, era jovem e bela. Um pândego, esse Charles Dickens.

O Grêmio será campeão? Saiba a resposta aqui e agora

Em exatos 11 dias o torcedor gremista poderá descobrir se o Grêmio será ou não campeão brasileiro. Tão-somente 11 dias. É simples: se o Grêmio ganhar os dois próximos jogos, contra o Atlético Parananense e contra o Inter, será campeão.

Inevitavelmente. Irrevogavelmente. Inexoravelmente.

Se perder uma que seja das duas partidas, ou empatar ambas, o Grêmio não será campeão. Terá de se contentar com a vaga na Libertadores. O que, ora, não é pouco.

Se ganhar uma e empatar a outra, bem, aí a angústia do torcedor prosseguirá. Aí nem o Sant´Ana, que vê Jesus no céu, é capaz de prever.

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