sexta-feira, 19 de setembro de 2008



"Posso fazer muito mais com a voz", diz Camille

Cantora troca francês pelo inglês em álbum que tem o brasileiro Barbatuques

Comparações com as experimentações vocais de Björk são constantes; "Meu trabalho é um pouco mais íntimo", afirma francesa

Maríe de Crécy/Divulgação



A francesa Camille, que acaba de lançar no Brasil "Music Hole"

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Como Carla Bruni, mas sem sua superexposição, Camille é uma voz em evidência na cena musical francesa, mais ousada e experimental do que a da primeira-dama -até demais para ouvidos acostumados ao pop tradicional.

"Comecei cantando melodias, mas um dia pensei: "Posso fazer muito mais com a minha voz, posso relacioná-la com algo bem primário". E comecei a usá-la como um instrumento", diz a cantora por telefone à Folha. E é essa a idéia central de seu terceiro e recém-lançado disco, "Music Hole".

Camille Dalmais, 30, fez sua estréia com "Le Sac des Filles", em 2002, depois de um período se apresentando em casas de jazz parisienses. Depois chamou a atenção cantando com o Nouvelle Vague, grupo que transportou clássicos do pós-punk e da new wave para a bossa nova, com o qual ela se apresentou no Brasil em 2005.

No mesmo ano, voltou à carreira solo e lançou o elogiado "Le Fil", disco em que uma única nota conectava as 15 faixas. Impulsionado pela canção "Ta Douleur", vendeu mais de 500 mil cópias na França. Em 2006, Camille fez o show do "Le Fil" em São Paulo, Recife e Rio.

Conceitual

Agora, diz retornar menos introspectiva e mais explosiva em "Music Hole". ""Le Fil" é um álbum conceitual. Eu estava pensando em contar uma história e não fazer uma performance no palco", diz. "Mas, para mim, a música é só um começo, é um laboratório para um projeto de show.

" Dona de apresentações performáticas, com interação com a platéia e sons percussivos extraídos do seu próprio corpo, Camille estudou balé e se arriscou como atriz em "Les Morsures de l'Aube" (2001), filme com Asia Argento no elenco. "Interpretar, dançar ou cantar é a mesma coisa para mim", diz.

Com discreta instrumentação e participações do inglês Jamie Cullum e do grupo brasileiro percussivo Barbatuques, "Music Hole" foca nas experimentações vocais de Camille -extenuadas em faixas como "Cats and Dogs", o que rendeu comparações com "Medúlla", de Björk, disco em que a cantora islandesa explorou ao máximo sua voz.

"As pessoas falaram a mesma coisa de "Le Fil", que acho menos parecido", conta. "Eu me identifico com Björk no sentido de experimentar, mas não diria que nossos discos são comparáveis porque nossas técnicas e vozes são muito diferentes. Meu trabalho é talvez um pouco mais íntimo.

" E se refuta Björk, Camille critica exageros vocais à la Mariah Carey em "Money Note" (nota de dinheiro): "Se Dolly Parton a escreveu/ E Whitney Houston a roubou/ Se Celine Dion pode alcançá-la/ Eu vou atingir a nota do dinheiro", canta na faixa. "Eu gosto de ironia, talvez para não ser sarcástica", diz.

Inglês

Diferentemente dos seus discos anteriores, Camille canta em inglês em "Music Hole", que pontua com frases em francês. "Parece uma mudança, mas não é, porque sempre falei inglês [sua mãe lecionava a língua] e tive a experiência de gravar um álbum com o Nouvelle Vague dessa forma", conta.

"Era tempo de explorar." A mudança, diz, gerou uma certa culpa diante da grande influência que o pop americano e britânico exerce, em sua opinião, sobre a cena pop francesa.

"Talvez a gente importe demais outras culturas. Temos uma herança muito rica da música clássica e contemporânea francesa que usamos pouco no pop."

MUSIC HOLE
Artista: Camille
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 25, em média

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